quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sobre as coisas que aprendi ao chutar pedras

Muitas de minhas certezas foram concretizadas em meio a quicadas duma pedra qualquer, numa estrada ínfima, e devo assumir que, chutar pedras durante algum trajeto serve-me como terapia.
Diversas foram as pedras que tive de chutar até que pudesse consolidar as concretudes de minhas motivações, obrigações e autoreconhecimentos, entretanto, aprendi muitos dos mistérios da - minha - vida, enquanto chutava pedras toscas.
Aprendi a valorizar certos detalhes da vida, observando certas lições, que determinados detalhes dessas desvalorizadas pedras podem trazer.
Com as pedras pequenas, notei que bem como alguns de nossos pequenos problemas, enquanto não definirmos um desfecho para ela, ela simplesmente será arremessada à frente, onde tornaremos a encontrá-la. Enquanto não encerrarmos de vez nossos desafios, e não deixarmos de empurrá-los com a barriga, mesmo que tardiamente eles irão nos encontrar, e nos cobrarão alguma reação. E o que fazer quando se está despreparado? Chorar não traz muitas soluções, por isto tornei-me adepto do planejamento independente da situação.
Com as pedras médias, acabei descobrindo que não encarar de vez o que nos machuca, unanimemente irá nos machucar ainda mais se apenas chutarmos mais adiante nossas irresoluções, já que, ao acumularmos deveras feridas minimizadas, maximizamos nossas dores, e exterminamos aprendizados.
E por fim, devo dizer que, com as pedras grandes pude descobrir que não existe maneiras de deixar algumas conturbações simplesmente passarem, e com estas sim pude abrir meus olhos para entender que muitas das vezes somos vencidos por estas pedras, muito embora, são desses machucados que brotam o experiência e amadurecimento que precisamos.
Claro que existirão muitos daqueles que dirão que a única coisa que aprendi ao chutar pedras, foi tornar-me prolixo, todavia à esses eu digo, que somente entenderão certas situações quando passarem por elas, já que existem muitas semelhanças em todo esse nosso percurso, porém a gravidade da situação somente entendemos quando a enfrentamos.
Desde já peço perdão aos que esperavam mais ensinamentos que pudesse lhes transpassar, já que as pedras são estas minhas professoras, sobretudo peço que lhes atentem as adversidades costumeiras que potencialmente são ainda mais nocivas do que as situações esperadas.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

19

Confesso que ao longo desta semana ensaiei os mais diversos diálogos à fim de presentear-me com o mais belo dos textos já feito por mim, todavia, como de praxe joguei toda aquela prosa artificial aos quatro ventos, e decidi por fim descrever unicamente o que verdadeiramente sinto - e vejo.
Hoje completo dezenove anos, e para quem não acredita que dezenove anos seja um bocado de tempo, basta tentar contar quantos sorrisos foram abertos em todo este tempo, e verão quão dificultosa é esta tarefa. Em dezenove anos eu pude aprender que o tempo é mais do que meros ponteiros circulando uniformemente - mesmo que no contraponto, o tempo na realidade é muito menos do que um suspiro que soltamos em horas inoportunas. O tempo é uma unidade de medida, diretamente ligada à intensidade dos momentos. Precisamos de apenas cinco segundos para nós acabarmos com dezenove anos de nossas vidas, e não menos importante, basta apenas um segundo para que nós possamos descobrir o quão alguém é especial para nós.
Em dezenove anos, errei tamanhos erros, que dezenove anos de nada me servirão, salvo para remoer-me escorado em minha poltrona. Em dezenove anos, bastaram apenas alguns segundos para que eu pudesse descobrir pessoas valorosas. Em dezenove anos,deveras vezes, um único segundo foi suficiente para me separar de quem tanto já quis por perto.
Enquanto ensaiava meus dizeres, tomei tento para não tornar-me prolixo, e como em tantos outros textos, iniciar alguma estrofe de queixas à respeito de como em dezenove anos não possuo nenhum grande feito para orgulhar-me, ou mesmo lacrimejar versículos em que a ausência da mulher amada me doesse tanto quanto uma dor fantasma, isto sem citar acontecimentos como a precoce responsabilidade financeira-residencial, e o estresse contundente, entretanto, o que seria de meus textos se não houvesse a inerente melancolia?
Dezenove primaveras sem festejos. Dezenove calendários sem nenhum grande marco. Dezenove carnavais sem mimos. Dezenove, que mais me parecem trinta e cinco.
Levei dezenove anos para entender o porque algumas poucas pessoas me parabenizam na data de meu aniversário. Hoje posso entender que quando dizem "parabéns", é porque valorizam o meu esforço em lutar dia após dia, e ainda assim conseguir sorrir. Levei dezenove anos para entender que eu também posso me parabenizar.
Tudo bem que minha mãe precisa de um lembrete para me jurar bons votos, tudo bem que menos de um quinto dos meus amigos lembraram que dia é hoje, e tudo bem que minha rotina não tenha sido quebrada denovo, afinal de contas, já estou crescido para acreditar que ainda existam motivos para se festejar.
A verdade é que por dezoito anos as coisas sempre foram da mesma maneira, e errei ao pensar que ao meu décimo nono ano de vida alguma coisa mudaria, outrossim peço que não me venham com todo aquele discurso sobre a existência de tantas outras pessoas em situações piores do que a minha, pois se não pararam para pensar, tenho prazer em lhes informar que não sou do tipo que sente-se melhor ao ver alguém definhar, esqueçam tais comentários, e isto servirá à mim como presente, mesmo porque, analisar pontos ainda mais negativos que o seu, não torna sua realidade melhor.
Num grande resumo de minha vida, conheci digníssimas pessoas, e também perdi valorosas companhias, errei, acertei, chorei e até mesmo praguejei, todavia que fique registrado que, ano após ano, sob o silêncio dos amnésicos de plantão, silenciosamente dou-me os mais sinceros parabéns, pois sei que não é nada fácil viver como vivo.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Não é o fim, mas permita-me

Dispenso falsas previsões, bem como quaisquer falácias positivistas e discursos ensaiados em frente ao espelho.
Sei que tal como o bem, o mal existe, e obviamente, cedo ou tarde ele há de agir. A verdade é que aprendemos a mentir todos os dias. Mentimos ao respondermos de maneira programada algum cumprimento, ao fecharmos nossos olhos para certas situações, e ao aconselharmos clichês esperançosos à quem desejamos o bem - e arbitrariamente à alguns punhados de desconhecidos.
O que me incomoda em toda esta situação, é a inadmissão em nos sentirmos mal. Somos metralhados por trovas sensacionalistas, dizeres impactantes e engenhosos jogos psicológicos, unicamente para encararmos unilateralmente nossas desventuras, voltados para face do contentamento, onde a máxima predominante é: "Ah, poderia ser pior..."
Sabemos que não se finda o mundo quando casais acabam rompendo, e também sabemos que não nos tornaremos lobotômicos com a inesperada demissão, sabemos até mesmo que nosso refúgio sempre será o senhor nosso Deus, outrossim, o que muitos não conseguem entender é que, sentimentos sobrepoem razões em quaisquer situações.
Se choramos ao rompermos namoros, é porque queremos extravasar nossas tristezas.
Se enfraquecemos quando deixamos de comer por vontade própria, é porque queremos nos penitenciar pelo mal destino.
Todo aquele drama, a lúgubre ansiedade suicída, e aqueles tantos planos furados e insensatos, são unicamente demonstrações duma fase em nossa vida que temos ciência de que em breve passará, muito embora isto não exclua nossos desejos em mostrar à quem nos cerca que estamos mal, todavia nos fortaleceremos em breve. E este desejo em mostrar que estamos passando por alguma desventura é tão grande quanto o desejo de não ter que ouvir conselhos rotineiros de que tudo virá no momento certo, que há males que vem para o bem, ou mesmo que, feridas hão de cicatrizar, e nos tornar mais fortes e vividos.
A grande verdade é que cada um de nós coexiste nestes dois lados da mesa. Ora aconselhamos, ora somos aconselhados. O que todos nós sabemos é que, ao pedirmos conselhos não nos interessaremos em ouvir nada além do que queremos ouvir. Isto ocorre porque ninguém além de nós mesmos compreende as razões, motivos e sentimentos envolvidos. É bem verdade que para toda ação, exista uma reação, porém, para cada caso, um caso. Esta diferenciação anula qualquer conselho, sob a jura duma experiência similar. Todos nós tornamo-nos controversos quando o assunto é sentimento.
Entretanto, creio que um meio de se evitar tamanha hipocrisia, é dizermos uma única frase, tão ensaida quanto às que costumamos ouvir: "Eu sei, não é o fim, mas me deixa chorar."

sábado, 7 de agosto de 2010

Sobre ascendências, partidas e permanências

Eu sei que é bem verdade que amizades nunca serão eternas, mesmo porque acredito que após determinado tempo, amizades ascendem-se à irmandades.

Certamente presenciei indas e vindas, e em cada uma delas, ou partes de mim esvaiam-se, ou recebia partes de outrem. Desta vez quem partiu fui eu, deixando não uma única parte, mas minha completa figura com quem desejar guardar.

Desde que habituei-me a escrever minhas próprias histórias, já não espero muito pelo que há de vir em minha história de vida. É muito mais fácil viver sob ficções. Em minhas trovas não preciso madrugar para trabalhar, exaurir-me para criar um bom curriculo, tampouco entristecer-me com as partidas de amigos, e amores.

Saiba vocês, dos piores ao melhores amigos que já conheci, que sempre os guardarei em meu peito, pois apesar dos pesares, foi justamente nas feridas que descobri meus pontos fracos, outrossim, para todos aqueles que nada fizeram além de dar-me ombros para que pudesse repousar, que conscientizem-se de minha mais pura admiração calada porém articulosamente expressiva.

Agradeço a todos por todas estas portas que se abriram e fecharam em todos estes dezenove anos, por cada lágrima de tristeza, e cada gotícula de alegria que me saltaram dos olhos.

Vendo assim de fora até parece que fui eu quem partiu, muito embora eu esteja aqui, no mesmo lugar em que me deixaram, aguardando o dia em que os verei completamente diferentes - alguns nem tanto - e assim poderemos saudar nossas antigas paixões. Enquanto essa hora não chega, aguardo aqui sozinho, feito festa surpresa à espera do aniversariante. Tantos partiram, que mesmo sem querer acabei partindo ao ficar no mesmo lugar.

Então, que ascendam-se as luzes, que toquem as cornetas e batam as palmas, pois eu sou a festa à espera dum aniversariante.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Flerte

No instante em que cruzamos olhares, não tivera a intenção, entretanto exortou-me. Me fizera despir todas as minhas incumbências, e repudiar quaisquer obrigações com minha estirpe, unicamente para que pudessemos nos entregar inteira e verdadeiramente por um momento. Naquele instante, nada dissemos - e também nem podíamos - ocupávamos nosso tempo com o velho e sagaz flerte, que potencializava nossas intenções e alimentava nossos egos.
Sobre ela nada sabia, salvo o fato que o seu penetrante olhar de certo perpetuaria-se mesmo nas minhas mais secretas lembranças. Quisera eu ser portador daquele olhar capaz de criar doces deletérios. Sei também que, sobre mim desconhecia qualquer informação, já que mesmo eu às vezes acabo confundindo quem sou se não der uma olhadela em meu RG.
Não era daqui, disto tinha certeza, do contrário, não ousaria olhar para mim, não teria a audácia de flertar com um alguém que repousa em bocas alheias.
Quão penetrante era teu olhar, e quão doce é esta arte do flerte, onde nada se requer, exceto audácia, sim, audácia para que se devore a atenção de quem deseja com gestos e olhares muito-bem-intencionados.
Cruzamos nossos olhares, bem como cruzamos a rua. Continuei em frente de cabeça erguida, sem ao menos virar o pescoço para uma última olhadela, mesmo porque, esta é uma das dádivas que o flerte lhe concede, poder amar e desejar alguém, e por instantes tê-la, então cessa-se o desejo, e nos despedimos sem quaisquer ressentimentos, culpas ou mágoas, e o que fica são boas lembranças.
Sei que possivelmente nunca mais a verei, mas a vida tem mesmo muito dessas arapucas, então se é que deve haver despedidas, que sejam ali, entre olhares, ao meio da rua, onde dois desconhecidos amam-se, doam-se, e despedem-se sem algum arrependimento, afinal o que resta são lembranças, e isto ninguém nos tomará. Costumo pensar que com tais flertes nunca desperdiço chances, apenas vivo os instantes que devam ser vividos. Morena por morena, flerte por flerte, cá estou eu, arrasando corações aos montes.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sobre a alegria

Uma das frases mais sensatas já ditas com certeza fora dita por C. Lewis, com as seguintes palavras: "Não nascemos para sermos felizes, e sim para amarmos."
A lógica em questão, resume-se a uma única máxima, que tornou-se quase clichê, dentro e foras de meus textos, afinal de contas, ninguém é feliz verdadeiramente sem amar.
Tristezas hão de vir, bem como as alegrias hão de dissipar a acinzentada nuvem de amarguras que lhe sonda, e é exatamente com esta certeza que devemos prosseguir sem direcionarmos nossas faces para o solo, afinal de contas, ao contrário de um conto de fadas, a vida real lhe submete a adversidades sem razões específicas, elas simplesmente acontecem, tanto para o bem, como para o mal, e temos de conviver com este fato.
Estar feliz é dar uma pausa de tudo que lhe sufoca. Deixar que a alegria lhe infeste por pequenas coisas ao decorrer de seu dia. Estar feliz, é esquecer que a adversidades nunca cessam, tão somente são adiadas. Estar feliz é dizer besteiras sem sentido, sem alguma preocupação para que suas palavras sirvam de consolo para alguém. Estar feliz é simplesmente poder ser você mesmo, ainda que brevemente. Estar feliz é ver grandes belezas em pequenas coisas. Estar feliz, é permitir-se ser escravo do Senhor amor, e assim sorrir ao ver seu sorriso, e chorar quando tu chor ar.
Hoje estou feliz, e ninguém me roubará este direito. Sorrio hoje, pois já admirei o seu sorriso.