terça-feira, 30 de março de 2010

Eu e minha boca

É sempre assim, a realidade como nada e os sonhos como tudo. Eu e meu coração. Eu e minha boca. Meu cérebro e eu. Não existe uma sincronia, e na verdade a bagunça é tamanha que espelha ao meu cotidiano a algazarra crescente e inoportuna. Eu bagunço minha vida sempre assim desta maneira, com toda essa desincronia da minha boca,cérebro e coração. Não é por maldade, e sim uma necessidade, afinal nada ganharei ao esconder a verdade mesmo que dolorosa. É uma pena que não perceba quanto mal estou fazendo mesmo a mim. É uma pena que não perceba quanto mal estou fazendo a quem me cerca - ou quem desejaria me cercar.
Infelizmente nem sempre as palavras conseguem dizer tudo que há para ser dito, nem as ações representam algo unívoco. Muitas das vezes existe somente o sentir, e o sentimentalismo engloba mesmo a raiva, a ira, a tristeza ou a solidão, e o que mais me incomoda é justamente cada um de nós sentirmos coisas diferentes em momentos iguais. Eu estou sentindo sombras e\ou resquícios do que se existiu outrora, enquanto outro alguém nada sente no momento, e ainda assim existe uma terceira pessoa potencialmente sentindo o que tanto quero com o coração, mas que meu cérebro discrimina e minha boca reproduz.
É intenso, doído, injusto e imaturo o sentimento por trás dessa situação que tornou-se mais do que saudade, tornou-se feridas, feridas estas que não estampam somente minha pele,porém também de um outro tecido - talvez cetim - que nada fez para merecê-lo.
Eu e meu coração. Eu e minha boca. Meu cérebro e eu. Esta desincronia ainda me tornará num nômade sentimental, sozinho não por opção mas sim por merecimento,já que injustamente replico as feridas causadas à mim, em pessoas que não merecem tal feito, pelo contrário, merecem total admiração e positivação sincera e sentimental. Eu mereço mesmo todo esse vazio,já que sou em quem cavou este abismo entre nós. É o puro boomerang, tudo que eu faço voltará para mim. Eu mereço mesmo é que pisoteiam-me. Mereço mesmo é que quebrem minha boca, meu coração e meu cérebro já que não existe uma bela sincronia, e espero que assim quem me ame e deseje meu bem não fique mal por minha boca ou coração.
Que decaiam-se minha boca, meu cérebro e meu coração,se isto lhe trazer de volta a falicidade ao seu viver.
Perdão. Não sou quem tu merece. Sou o tosco que não vê além de lembranças do coração,vozes da cabeça e os pensamentos que fogem da minha boca. Desculpe-me, e anseio que não derrame lágrima sequer por mim,pois não as mereço e nem tu merece esse choro.
Infelizmente estou pagando mais uma vez o preço por não sincronizar minha boca,coração e mente.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Tenho um retrato seu, e...

Eu não conto pra ninguém, mas as vezes eu fico aqui parado só olhando sua foto, lembrando de tudo - ou do nada - que tivemos ou passamos juntos. Por mais que queira eu não consigo sentir raiva de ti, na verdade tenho medo de que um dia eu aja como tu agiu, porém compreendo como são as coisas, afinal, é diferente pra mim como é pra ti. Mesmo em meio a raiva temporária eu a achei linda, perfeita a maneira que era. Mesmo agora te acho linda, e perfeita por não estar com alguém como eu ao seu lado, afinal que tipo de tarado sócio-cibernético vigia seus (des)amores em silêncio, e só? Mesmo de olhos fechados eu te acho a mais bonita. Não é bem isso, na verdade nada tem a ver com taras, muito embora envolva certos desejos, como o de poder acariciar os seus cabelos enquanto vagarosamente adormece em meus braços ao falar besteiras. É, custo entender por que não está aqui agora além de aqui dentro de mim, e mesmo que saiba que sua boca já beijou outra que não é minha, anseio um dia poder te observar como faço agora, mas de perto contigo ao meu lado, e assim poder te fazer sorrir antes de tu entregar-se a mim e sussurar ao meu ouvido que não precisa de mais nada senão deste momento.

sábado, 27 de março de 2010

Me lembro das roupas sujas de grama, dos nossos despenteados e do violão cuidadosamente jogado de qualquer maneira ao nosso lado. Havia alguma estranheza em nossos sorrisos, que pareciam nunca se findarem, e também alguns olhares dos populares anônimos que observavam de canto aquela simplória e fiel representação do que era o nosso amor. Nada de complexidades, palavras difíceis ou metáforas surreais ilustrativas. Nosso amor era tão real e tão simples quanto dois bobos que não se importam com o restante da população que os cerca, e se jogam e se deleitam em meio a sujidades encontradas na grama, simplesmente contentes de estarem um próximo ao outro.
Só não entendo o por que de você ter partido mesmo jurando ilimitada permanência ao meu lado, e ao fazê-lo partiu meu coração. Fugiu e não deixou-me juras de amor, mesmo tendo jurado que seria eterna. Só não compreendo que mesmo em meio a tanta simplicidade do nosso notório amor, tu insistiu em complicar tudo e complexou um sentimento desnecessariamente causando indecisão ao teu coração e cicatrizes à minha alma.
É estranho eu ter de escrever o que você já que não quer mais ouvir de mim. Foi difícil ouvir o que ouvi, e de sentir o que senti, porém continuo na estrada, e se não de cabeça erguida é porque desde de pequeno - de bem pequeno mesmo - tenho o costume de andar olhando para os pés, o que me torna um tanto corcunda enquanto caminho. De cabeça erguida sim, mas também de peito rachado.
Aonde está você agora pra me mimar como nenhuma outra o fazia, ou pra me chamar daquele jeito que só tu chamava-me?

sexta-feira, 26 de março de 2010

Deixe estar

Os dias em que me perco são os dias que mais me encontro, e mesmo em meio a tanta solidão o que me conforta é saber que sozinho assim ninguém poderá ferir-me enquanto num transe espiritual eu reflita que pássaros partem posto que são livres para voar, e tanto difere o meu eu destes seres tais. Tanto diferem as asas de seres angelicais das minhas asas cognitivas artificiais, que vertem dum choro suprimido e retido - e conformado - que habita um coração repleto de furos e sujidades ambíguas que tornam a latejar sempre que o diabrete das vestes carmesins assopra aos meus ouvidos o convite á insanidade.
Não há estampido maior que o do teu silêncio aos meus ouvidos, e não há amor mais sofrido que aquele que não se tem. Desconfio cada vez mais de todos e ao perceber que não posso mais contar com ninguém já que ninguém conta nada á mim.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Cansado

Eu preciso:
- Escrever com mais sentimento.
- Cultivar o afeto de quem me importa.
- Deixar o orgulho de lado.
- Confiar mais no meu potencial.
- Aprender a compor canções.
- Tirar férias.
- Viajar pra bem longe.
- Mudar de emprego.
- Arrumar uma namorada.
- Comprar uma camera.
- Aprender a tocar divinamente violão.
- Esquecer esse amor que me esqueceu.
- Mudar meu visual.
- Amar mais.
- Odiar menos.
- Ser amado.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Mallu



Não é nenhuma novidade para mim estar mais uma vez em casa enquanto algum artista de meu gosto apresenta-se para um público indiferente à minha ausência. Não é a primeira vez e tenho certeza de que também não será a última, que ocorre algum imprevisto - ou mesmo a já prevista responsabilidade precoce - e não tenho disponibilidade de tempo ou dinheiro, acarretando em múltiplas desventuras acerca de meu histórico atrativo-musical. Tudo bem que já deixei de ver nomes como Radiohead, Oasis, Coldplay, Killers, Cachorro Grande, Vanguart ou mesmo Dylan, porém ter de adiar mais uma vez um show teu Mallu, machuca-me muito, posto que seja você o meu sonho de consumo. A garota linda, dum sorriso ainda mais lindo, da extensa cultura musical e da singela expontaniedade que tanto me instigam - e de também toda desenvoltura ao responder diversas críticas de maneira cômica-cultural. Já que tenho de aceitar a idéia de que nunca nos sentaremos e conversaremos sobre tudo durante tanto tempo, sei que nunca notará minha presença - ou mesmo a desejará - por que ainda tenho encarar o fato de que ainda não pude te ver pessoalmente tampouco apresentar-me,e ainda assim adiar o dia em que poderei te ver? Sabe,hoje o dia não foi nada inspirador, ou como você mesmo já disse 'não foi inspirante', e com isto não pude redigir crônicas, ou indagar lindos versos sobre desventuras. Sabe,eu consigo discernir o platônico do real, e sei que nunca passaremos da relação artista-fã,entretanto, ainda assim não deixo de te admirar,te elogiar,e suspirar na ansiedade de tua presença. Talvez eu me esconda atrás deste sentimento somente porque não tenho alguém como você ao meu lado - e na verdade não tenho alguém sequer ao meu lado - ou talvez seja simplesmente fruto de seu trabalho. Tanto faz, por hora o que sinto é revolta em saber que hoje tu canta e não é pra mim, que tirará fotos e não serão comigo, que repousará e não será em meus braços. Platônico até pode ser, mas quem irá me julgar por amar alguém que nenhum mal fez-me?

PORRA!

Esta não é uma crônica, tampouco uma fábula, e sim pura realidade fatídica e autótore.
Estou cansado deste meu emprego de merda e não quero mais ter que respirar o mesmo ar que o de Cristina Mizutani, já que ela me enoja, sua voz me perturba e sua aparência me causa náuseas. Preciso de demissão e de um emprego que me renove.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Sobre meninos e desamores

Imaginei que tu seria o remédio da enfermidade que me causara o relacionamento passado, porém mostrou-me por fim que era eu o teu remédio de esquecimento, simples pílulas de amnésia.

i-mund-i-o

Não vos preocupam o fato de seres humanos dotados das mesmas limitações, com semelhantes aparências e igualmente vulneráveis à fatalidades cotidianas, conflitarem-se corriqueiramente sedentos pelo derramamento insatisfatório e desnecessário de sangue, e deleitarem-se com o negrume do sabor da ira e do ódio enquanto intercambiam escárnios contundentes e latejantes à sanidade humana?
Não percebem que a sociedade atual preocupa-se mais com a clonagem duma vida, do que não ter de tirá-la? Sim, obviamente existe - e todos sabem que existe - a perturbação momentânea das idéias, e é exatamente neste momento em que uma simples provocação acarreta em doses temporárias de ultraviolência gratuita e errônea, onde punhos são erguidos, estômagos violentados e até mesmo armamentos utilizados, entretanto nada nos obriga a entregarmos nossas consciências e benevolências ao lobo adormecido em cada um de nós. Humanos agindo desumanamente sob a desculpa de defenderem ideais, ou mesmo amores, sempre serão desumanos. Não julgue alguém como má pessoa, nem mesmo se intitule como alguém de boa índole, uma vez que ainda defenda ou mesmo aja conforme este tipo de movimentação, já que de fato ao fim de nosso tempo pré-determinado, todos nós pereceremos e jazeremos à sete palmos de terra, não cabendo a nós implantarmos nossa própria justiça, e sim aguardarmos a justiça maior, da maneira mais humana possível, paciente e diplomaticamente.

Recente

- Por que quis me ver hoje?
- Porque me deu vontade oras.
- Mas justo hoje te deu essa vontade do nada?
- Sim, eu não controlo meus desejos ué.
- Sim, ninguém controla, mas é que...
- Além do mais, se não de mim, não é de você que parte uma iniciativa não é mesmo?!
- Não, é que... Bom...A partir de hoje eu vou agitar mais saídas,vamos?!
- Por mim tudo bem, eu lhe vejo mais vezes.

Falácias. Acabou antes mesmo de começar, e por mais que tente entender ao olhar atrás, tudo que vejo são fingimentos e ingenuidades. Não houve mais saídas. Não houve mais você.

domingo, 14 de março de 2010

Gabriela

Tu que cogitou o fim, imaginou o cessar e esquivou a mente do presente momento - e manteve somente a frieza física, simples sombra do que fora outrora - capacitou-me enxergar através de minhas, e também de suas janelas, as tardes de Sol que perdia ao passo que permitia sair aos poucos de minha vida, e esforçava-me ao máximo para que adentrasse a sua.
Tu que originou em mim a fluente quase incessante dos rios da tristeza, que fez-me questionar o valor de sua flor que tanto queria adentro de meu peito, atirou-me a incerteza da felicidade e a certeza de que não seria eu quem lhe faria mudar de idéia.
Tu que derramou-me num mar de trovas e versos de genuína identificação, obrigou-me a plagiar as mais belas canções a fim de estancar duma vez o sangramento que causou em meu espírito.
Tu que transformou aquele garoto repleto de sonhos num homem de muitas realidades, que pisou nos sentimentos do outrora amante e atual fatídico, hoje em dia deve ser creditada por me presentear com as cicatrizes dum passado sofrido e tenebroso, pois foram - e são delas - que surgem as mais furtivas pensativas e trovas que adentram o espírito de quem recebe através das retinas as migalhas de meu coração, subescritas nos caracteres desta carta sem destino.
Tu que não mereceu meu amor. Tu que desmereceu meu amor. Tu que fingiu ser fingida. Tu que mal se deu ao trabalho de me presentear com beijos, abraços, afagos e dizeres de amor, ao menos deu-me um último presente, um presente que sou capaz de dividir com quem quer que seja e nunca se acabará. A ti eu so tenho algo a agradecer. Obrigado por me fazer odiá-la, e a amar a mim mesmo.

Sábado

E tudo que resta são corações partidos esparramados ao chão de toda esta cinzenta urbe caótica e individualista vítima de uma grandiosíssima bomba de mesquinharia. E mesmo que a mente possa compreender que não somos limitados, o corpo não reage assim e nos causa dependência, dependência esta que nos consome cada dia mais até o momento que tudo que se vê em semblantes cadavéricos, são sorrisos lúgubres da certeza irremediável da morte e do não aproveitamento do tempo que nos foi regido.
Ilusões são fabricadas nas mentes de cada um que usufrui deste nosso vício que é o amor instantâneo, intenso e de curto prazo. Já não se existe melhores ou piores amigos, estes rotulos surgem ao exato momento em que você precisa deste alguém por puro interesse material ou social.
Já não se fabrica mais o velho bom romance, do tipo que aparece justamente quando você não está esperando ou procurando por ele, mas que muito lhe diz a respeito de você mesmo e do alguém que partilha as felicitações da vida, que lhes segreda alguns causos e que desvenda cada mistério que há de surgir ao longo desta estrada.
De fato, tudo que nos resta é este conformismo barato de que tudo está escrito e que um dia tudo acabará bem justamente pelo tempo estar adequado a sua missão terrena.
E tudo que resta são minhas palavras ao papel, aos ouvintes que não compreendem que não há nada de bonito em ser triste.

sábado, 13 de março de 2010

Matriz

Talvez eu não quisesse aceitar, ou tivesse vergonha em aceitar, que por mais que seja sólido seu psicológico, seu físico ainda assim possuíra limitações e necessidades.
Sim, eu me sinto só e já não me importa se pensem que não passo de um dramático falido, mesmo porque isso nada adiantaria a mim. Tudo que preciso é ouvir que sou importante, que sou necessário, que sou saudoso e inesquecível. Tudo que quero são desejos carnais - e espirituais - e sim, quero e quero pra já meus atrasadíssimos beijos, abraços e dizeres apaixonantes.
Só queria uma vez na vida poder ver casais por onde vou e não sentir-me incomodado por não ter ninguém com quem dividir o mistério dessa vida. Não é o estereótipo que encaberam-me que me incomoda, e sim a ausencia do calor em meu peito. Não é rivalidade e nem números mediantes a amigos sob a vanglória, e sim refúgio e carência.
Só queria não ter de escrever aqui os sentimentos que não consigo cantar, e queria que meus leitores não dissessem que meus textos são belos, pois não há nada de belo em ser triste. Só queria me notassem, e não me tornarem invisível.

quinta-feira, 11 de março de 2010

A Queda

Perceba que indifere se a queda é do primeiro ou do oitavo andar, com excessão de algumas tantas escoriações ou mesmo do som que a queda proverá, quedas hão de ser quedas. É somente com a queda que compreendemos o quão baixos os seres humanos podem ser - ou estar. Contudo, é fenômeno da queda a valorização da ascensão e o temor pelo excesso da elevação que potencialmente somos capazes de fazê-la, e possivelmente a faremos.
Quantas vezes já não sofremos quedas nesta vida, e sabe-se lá quantas mais hão de vir, todavia sabemos - e disso não há dúvida - que por mais que seja dificultosa a ascensão desta queda, será unicamente ela quem nos vangloriará ao decorrer de nossos dias vivenciados sobre este solo, e a queda é necessária para que possamos aprender a erguer-se duma maneira sólida - e fixa - seja a ascensão isolada ou em conjunto, reerguer-se é fundamental ao nosso aprendizado e bem-estar. O mal é necessário para que possamos vivenciar o bem. A queda é necessária - e todas as suas escoriações e traumas - para que possamos temer esta malevolência que a vida nos entrega, e assim sendo, trilharmos um caminho retilíneo aos preceitos socias - e aos temores da ausência da ascensão.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Plágio

Perdoe-me por estes mal-tracejos,
Mas é que já mal posso evitar,
Este fervilhar crescente em desejos,
Faz-me tais versos lhe entregar.

Tu que me ensinou a amar,
Partiu tão rápido quanto veio,
Esqueceu de ensinar-me a lhe odiar,
E hoje tua presença eu anseio.

Talvez até já saiba, contudo lhe direi,
Ser teu só me trouxe o bem,
Não importa o tempo que passe eu sei,
Não sei amar na vida mais ninguém.

Tua ausência me comprime as palavras,
E isto porque de fato lhe venero,
E se não explícito, lhe direi em trovas,
O coração bate porque te quero.

Mesmo que não leia,
Assinarei à finalizar,
E espero que aceite,
O alguém que sempre vai lhe amar.

terça-feira, 9 de março de 2010

Nostalgia

É irreversível. Não há nada que possamos fazer, salvo entregarmos por completo nossa consciência ao êxtase da nostalgia. Talvez seja este o motivo pelo qual o passado nos comova profundamente, pelo singelo fato de que são exatamente em nossas memórias que vivenciamos de maneira imutável, e nos felicitamos - ou nos entristecemos - com nossas ações, ou decisões que tomamos há muito, ou há pouco, e nos vangloriamos de sábias escolhas - e nos arrependemos e aprendemos com atos desnecessários - simplesmente porque nosso passado é ostentado pela imutabilidade.
O passado à mim revela uma criança tímida, frágil, ultracuriosa e reservada, que a mãe lhe carregara por sete anos, entre hospitais e farmácias. O passado à mim evidencia a criança com meias ao chão, apoiando-se na ponta de seus pés almejando ver seu reflexo no gabinete do banheiro. O passado me traz à tona o amendrotado garoto numa mesa cirúrgica, o pequeno inocente que não entendia por que seu irmão não conseguia levantar-se da cama e brincar com ele. O passado rotula-me como um patinho feio - sem amigdalas - de poucos amigos, de muito potencial, proprietário do refúgio em ler e escrever - e desenhar - e expectador de conflitos conjugais, o que me fazia cada vez mais questionar os porquês e talvez que a vida quinquilhava-me. O passado à mim remete o repudiado amante, a trágica aparência rota, e o desconhecido ritmo de vida dum garoto normal. O passado atormenta-me com o semblante dum garoto que nunca teve alguma festa de aniversário, que desconhece o tamanho do mar ou a temperatura duma areia de praia, que nunca brincou com brinquedos que não fossem dele, ou mesmo o adolescente que mal saíra, que quando encontrou escassos amores fora traído e de ódio fora consumido, manchado por três gotículas de desamor, do altruísta emputecido, a insistente e duradoura aparência rota, do escasso monetário e físico imperfeito, da responsabilidade precoce e dos tantos sacrifícios por quem se ama. Outrossim, o passado presenteia-me com imagens de reuniões familiares, as melhores notas, a salada de frutas de minha mãe, os bolinhos de chuva das tardes gélidas semanais, as receitas secretas de vovó, da culinária receptiva ao meu finado avô, o único primeiro amor, o inevitável primeiro beijo, a anual caixa de BIS, o instante em que vi meu reflexo ao gabinete do banheiro, dos longos cabelos negros de minha mãe contrastante a minha bochecha corada, dos primeiros amigos que emprestaram-me os primeiros brinquedos, memórias de quem não podem mais voltar, e de uns outros que talvez tornem a voltar, o primeiro salário e também a impagável experiência de aprender a andar de bicicleta aos 15 anos, bem como as luvas de dedos coloridos, os dentes de leite e a diversidade nos penteados e cortes.
O passado. O irremediável. A prazerosa e didática nostalgia. A imutabilidade em meio à diferença - e a indiferença. Já não importa preocupar-se com o passado, o que importa é revivenciá-lo por lembranças, afinal, o passado sempre se resume à meias estampadas, furos de dedos em bolos, mães preocupadas, pais estressados, canjas de galinha e chás de aprendizagem.

sábado, 6 de março de 2010

Satisfação

Existem aquelas ocasiões em que me perguntam o por que eu falo duma maneira estranha, sobre coisas estranhas. Paro, respiro e nada digo. Muito embora, eu saiba que a maneira que falo é fruto da beatitude, que fez-me deixar de pensar com a cabeça para refletir com o coração, e estas minhas palavras nada mais são do que as vibrações dum coração que fala da maneira mais tímida e simples possível, entretanto, muitas das vezes tais vibrações tornam-se incompreensíveis mesmo as mentes mais brilhantes, e isso se deve ao fato de que a linguagem que uso é puro sentimentalismo, e sentimentos não servem para ser entendidos, mas sim para ser sentidos.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Ah, Saudades...

O irrequieto ponteiro do relógio lateja a cada instante as cicatrizes em minha'lma, e á cada segundo sinto um descompasso em meu coração. Saudosa época em que para lhe ver eu não precisava fechar os olhos. Hoje em dia tudo que restou foram resquícios da fagulha ígnea que motiva-me a trilhar os meus caminhos com a certeza - e mais do que isso, com a esperança - que um dia nossos caminhos tornem a se cruzar, e como numa estrada sem fim não possamos nos escapar um do outro. Que num emaranhado de braços se finde cada gota de arrependimento que escorre em minha face, e que a cronologia seja nula no momento em que seus lábios de perdão tocarem os meus lábios de felicidade ressurgida. A saudade age como um voraz parasita e alimenta-se de minha angústia, e talvez realmente seja isto, aliás, com clareza eu digo que para a doença da saudade somente uma dose extra grande de você será suficiente para que o sorriso retome á minha face e substitua duma vez o semblante lúgubre nesta carcaça perecível e errônea, que sofre com as tolas decisões dum passado não tão distante. Ah,se eu pudesse retroceder na história, eu a conheceria da maneira como a conheci, me envolveria contigo da maneira como nos envolvemos, todavia, a manteria perto á mim até que se findasse os meus dias. Ah, não fosse a incertidumbre de meus atos não teria a certeza de que és necessária para mim, e mesmo que doa, doa tanto que quase desisto diante da dor, seguirei este trajeto para que ao fim do arcoíris você seja o meu pote de ouro. Ah, se eu ao menos pudesse tê-lo novamente nesta nossa união de almas. Ah, acima de tudo a saudade é amiga do tempo, e nos remete ás mais deliciosas recordações conjuntas á ti. Agora percebo, lembranças apesar de lindas ainda são lembranças, mas o amor que tenho a oferecer á ti, mesmo que não seja recíproco é intenso e prazeroso. É, se outrora não acreditava hoje em dia vivencio, o arrependimento é a agulha do tempo que nos cutuca a cada passo dum ponteiro de relógio. Ah,como eu te amo.