domingo, 30 de maio de 2010

Instante

É estranho acreditar que, demoramos tanto para criarmos algo, e é necessário somente um momento para que tudo que conquistamos, ou criamos comece a ruir-se. É necessário somente um momento, somente uma decisão, somente uma frase dita ou não dita, e em instantes tudo esvai-se.
São nesses instantes que percebemos que falhamos. Percebemos que não basta conquistarmos o que queremos, temos mesmo é de mantermos tal conquista para nós. A falha é fruto da ação incerta para tal momento. A falha é capaz de gerar a desistência, e a desistência é a morte da esperança.
Eternamente errantes. Eternamente aprendizes. Isto é o que exatamente somos. Não temo exatamente a falha, meu pavor é justamente a desistência. Minha vontade é ter alguém para amaciar a minha queda, para limpar as minhas feridas quando eu errar e sofrer as devidas consequências, um alguém para abraçar-me quando já se faz frio e o Sol insistente há de repousar alguns instantes mais.
É estranho acreditar que, demoro tanto para recuperar algo que perdi, que quando acabo reavendo-o, já não me tem tamanha importância, e percebo isto num instante, e minha cabeça se enche de devaneios a respeito se terá sido certo ou não ter perseguido tanto algo que não queria verdadeiramente. De fato também erro, e um instante é necessário para que perca tudo o que tenho, ou mesmo me perca dentro de mim mesmo.
O fato maior é que eu nunca disse que fosse perfeito, tampouco quis mostrar isto, muito pelo contrário, retratava a minha maneira de ser crendo somente que a perfeição encontra-se justamente na imperfeição, imperfeição esta que coagia meus pensamentos.
Levei tempos para aprender que já não importa falhar, o que importa mesmo é não desistir, e a medida do possível vivo esta doutrina instante a instante.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Gabi

De minha janela eu vejo Gabriela, mas não posso tocá-la. Não devo tocá-la, se é que quero que mantenha a imagem imaculada da grande pequena que desbrava mundos a fim de encontrar-se.
Da janela onde vejo Gabriela, consigo apenas lhe dizer algumas poucas bobagens, porém, penso eu, que são dizeres mais do que suficientes para que âmbos possamos compreender que o mundo é sim conexo, e não há como fugirmos um do outro.
Esta janela por onde vejo Gabriela nem mesmo é material, algo plenamente compreensível, posto que as begnitudes que flui de Gabriela também não são sólidas feito pedra, muito embora sejam tão concretas quanto crer que Deus exista.
Não sei se são os devaneios, ou a falta deles, é que realmente faz de nossas conversas tão prazerosas quanto bombas de chocolate, todavia, nem sempre é possível extasiar-me em seus dizeres, nem sempre tem bomba de chocolate na padaria da alegria.
Não consigo diferenciar Gabriela duma pétala de rosa. Sua figura remete-me à fragilidade mais tênue e forte que já vi. Pensando bem, Gabriela é a própria rosa. Mas não uma rosa com espinhos, e sim uma rosa espinhada. Pena. Peno por Gabriela. Rosas não devem ser pisoteadas. Gabriela não deve ter espinhos, e nem ser espinhada.
Ó rosa, não deve perturbar tua beleza com estes falsos espinhos, confie em mim e simplesmente mantenha-se firme e forte, feito a figura que sempre me mostrou, em toda esta vistosidade, beleza e coragem.
Ora Gabriela me fala feito rosa, ora fala-me feito gangorra com todos os seus altos e baixos. Ora Gabriela fala-me feito uma guerreira desbravadora, e ora diz feito Gabriela, tão meiga e frágil quanto.
De minha janela vejo Gabriela, e estas trovas nem mesmo devam ser poesias, pois tu Gabriela, já é!

Ludmila

Pensei ser capaz de ir contra esta minha natureza, entretanto vejo que, crer que fosse possível esquecer este sentimento, não passou de mais um de meus erros. É quase que instantâneo, digo, logo pela manhã encontro-me estirado em minha cama, surpreendido pelo Sol aporrinhando minha janela, visitando-me quarto adentro e sussurando seu nome quase que inaudívelmente, muito embora seja nítida a necessidade que tem de me lembrar desse nome que na verdade não sou capaz de esquecer.

O destino tem muito dessas coisas. Ele nos traz à memória fatos que nem sequer tentamos lembrar, e acabamos lembrando até coisas erradas em momentos errados, porém ao destino, estes momentos e estas recordações são tão exatas quanto os bocejos que soltamos em meio ao tédio da amnésia. Desnecessário mesmo é tentar evitar que tu me venha à memória - tão desnecessário quanto aprender a amarrar cadarços enquanto criança, para que quando adultos simplesmente escondemos os cadarços abaixo da meia.

Vencido pelo Sol, deixo então que o destino retome seu curso e me dê coordenadas para que me encontre em meio à esses dias que me perco. E acabo me encontrando mais ainda quando te encontro no meu caminho. Muitas das vezes este encontro não é físico, todavia tão real quanto. Basta apenas fechar os meus olhos, ou nem sequer isso, necessário mesmo é simplesmente recordar dos meus momentos mais felizes e tu está lá inerente.

Te vejo na minha xícara de café. Por ti tomo jarras, jarras de café, e não nego a ansiedade que o café me traz, digo, esta ansiedade de te ver. Nem sempre é possível te encontrar fisicamente, e admito que certas vezes eu acabo me privando desse momento tão sólido que é te abraçar, pelo fato de me julgar indigno do teu sentimento. É, não dá pra negar, você está mesmo em cada gota de café, e em todo fundo de minhas xícaras, e acho que por isso que acabo tomando feito louco toda essa cafeína, a fim de absorver por completo um pouco mais de você.

Fico confuso à cada despedida. O temor me invade à cada despedida. Me sinto menos eu à cada despedida. Acabo querendo sempre mais um pouco de você à cada despedida.

Escrever para mim funciona como uma terapia, muito embora isto nem chegue perto do bem que é sorrir por ti, que és de fato meu melhor remédio, ou seria você o meu vício mais letal? Creio por fim que seja você a minha cafeína viciante, minha dose de perfeita de calmaria em meio a tempestade. Escrevendo assim, até parece que sou gente grande, mas tu sabe - e como sabes - que não passo de um garotinho perdido em meio a uma grande selva de concreto, e é você a minha eterna guia, minha eterna companheira. Não sei se o que sinto no momento é saudade, ou arrependimento, de não lhe dizer todos aqueles ‘eu te amo’ que reprimo, por achar que seria incoveniente ou incompreensível à aqueles que pensam que relacionamentos entre homem e mulher existe somente na cama - ou em quase nela.

A verdade é uma só. Quando por fim entrei de férias, pensei ser capaz de tirar também férias do mundo. E de fato consegui, recriei meu mundo em todos esses minutos ociosos, consegui mesmo o mais dificultoso, tirar férias do próprio Eliézer. Admito que, falhei num quesito. Falhei em pensar que também seria possível tirar férias de você, mas a medida que tento fugir de ti, a saudade aumenta cada vez mais, e é em meio à toda essa algazarra de meu guardaroupa que acabo te encontrando sempre no mesmo lugar, aqui dentro de meu coração, e a cada vez que te encontro tu sempre diz num tom de companheirismo: ‘Pode tirar férias do Eliézer, mas o Zé você não consegue folgar!’.

Acho que entendo o que você quer me dizer. Não adianta, mesmo que queira, não posso tirar férias deste meu sentimento, posto que este meu sentimento, já se tornou eu por completo. Compreendo que não consigo tirar férias de você, e esta compreensão que traz saudade, que me traz arrependimento, todavia não me traz o que mais quero, a compreensão não me traz você.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Fedor

-Doutor, podemos morrer com fedor?
-Quando morremos nos deterioramos. O malcheiro é consequência disto.
-Não entendeu. Quero saber se podemos morrer ao inspirar muito fedor.
-Ora, que pergunta curiosa, mas creio que isto não seja possível.
-E por que não?
-Nunca ouvi falar de alguém que tenha morrido por excesso de malcheiro.
-Também nunca ouvi falar de alguém que tenha morrido ao ser atingido por um vinil dos beatles que se desprendera dum bagageiro de avião, enquanto trajava uma fantasia de Batman, mas a física diz que tal morte pode acontecer.
-Não tenho certeza se a química ou biologia explica se o fedor em excesso seja mortífero.
-A fumaça doutor.
-Que tem ela?
-Em excesso pode matar.
-Devido a densidade dos gases, que nos asfixiam.
-Os gases em excesso ocasionam mortes certo?
-Correto.
-A fumaça é fedida não é?
-Correto.
-A fumaça contém gases não é?
-Correto...Aonde quer chegar com isso?
-A fumaça é fedida, os gases são fedidos e nos matam. Não será o fedor o assassino?
-A densidade é a assassina.
-Por que as coisas fedem?
-Porque deterioram-se.
-E por que deterioram-se?
-Ora, tudo nesta vida tem um tempo útil. Quando esse tempo acaba não há muito o que se fazer.
-As coisas deterioram-se porque não as zelamos, nós as tratamos descartavelmente.
-Não há o que se fazer, as coisas estragam!
-Mas em meio à essa desventura nós podemos conter o malcheiro. Escute doutor, as coisas fedem porque nós permitimos federem.
-E por que essa cisma com fedor?
-Gostaria de ter certeza se pode ser mortal, para que previna-me da maneira que se deve.
-Prevenir-se?
-Tu sabe que hemorragias, tiros ou queimaduras podem nos matar, e assim previne-se contra tais acontecimentos não é memso?
-De fato, isto é bem verdade.
-Só quero ter certeza que o fedor não me matará, feito à pressão do fundo do mar, caso eu adentre algum ambiente fedorento.
-E por que entraria num local com fedor?
-Às vezes é necessário doutor. Veja bem, dia desses fui à casa dum amigo. ele dizia estar com um problema no ralo, e todo o tempo que fiquei ali achei que fosse morrer com todo aquele cheiro de merda. E de uma coisa tenho certeza, se o fedor não nos mata, ao menos nos deixa insanos, ainda que temporariamente. Com todo aquele cheiro, meu amigo percebeu meu desconforto, e a todo tempo dizia-me explicações sobre o ralo. Eu estava fora de mim, e tudo que via era sua boca se mexer. E se mexer. Até que explodi!
-O que quer dizer com 'explodir'?
-O fedor realmente nos torna instáveis doutor. Arrependo-me do que disse, e a maneira como disse. Mas o fato é que ao ver a boca dele se mexendo, dando-me explicações esfarrapadas, não me dei conta e o interrompi perguntando: "De onde vem o cheiro?" E ele respondeu-me "do ralo ali, eu to com um probleminha com..." Eu mal o deixei terminar, e o questionei: "E o que tem no ralo?" E claro que com certa vergonha não me respondeu. Tornei a dizer:"O ralo está entupido de merda, e essa merda vem de você!". Não preciso dizer que isto foi constrangedor. Porém, pensando desta forma, as coisas fedem porque permitimos, e acho que permitimos porque no fundo a gente sabe que somos nós é que provocamos o fedor.
-Estou fedido meu caro?
-As pessoas fedem doutor. Não é o fedor que empregna nas pessoas, é o perfume que se esvai. Tomamos banho para remediarmos nosso malcheiro. Nos perfumamos para nos enganarmos.
-Nos perfumamos porque odiamos o fedor.
-Nós odiamos porque o fedor nos incomoda. E de certo doutor, tudo que nos incomoda, ao menos as que interferem em nosso organismo, em excesso causam morte.
-Tudo que nos incomoda e interfere no organismo? Mesmo?
-Os choques, por exemplo. Queimaduras, hemorragias, perfurações ou paradas respiratórias, em excesso são mortais. Por que não o fedor?! Ele certamente desvia nossa mente. Pessoas nos incomodam, pessoas fedem e pessoas matam. A morte fede, fede à cinzas.
-Pessoas desequilibradas matam.
-Mães matam agressores de crianças por autodefesa. que tal estas doutor? São desequilibradas?
-Não, estas não são. Mas certas, elas não estão.
E quem há de julgar isso senão Deus? Muito embora este não seja nosso foco, pessoam matam. Pessoas que fedem e fazem fedor ao matar e morrer.
-Me pergunto se outros discutiriam tanto este assunto.
-Temo por estes desavisados, que trabalham em indústrias químicas, manipuladores duma matéria que fede. Se letal, essas pessoas morrem um pouco a cada dia com tal fedor.
-Em que trabalha?
-Veja o senhor quanta irônia. Eu vendo máscaras descartáveis!
-Daí esta obssessão por fedor?
-Não doutor, simplesmente quero saber porque não morremos por fedor, se ele nos incomoda tanto.
-Talvez sejamos capazes de morrer com fedor.
-Você acha que podemos morrer com fedor?
-Dia desses não, mas hoje acho muito provável.

Mercado

Enquanto decidia-se entre comprar uma lata de sardinhas ou um vidro de palmito, se distraia ao ver os não-raros casais que andavam pra lá e pra cá ao longo do hipermercado. andava tão distraído que, não fosse o baque contra o peito, mal teria percebido que veio a colidir com outro carrinho que estava à sua frente. Preparou prontamente uma desculpa para entoar, muito embora não fosse preciso, já que descobriu logo em seguida que a vítima de sua batida era seu melhor amigo que a tempos não o via.
- Ora, ora, além de não mandar notícias sequer, me atropela desta maneira? - disse o amigo benhumoradamente.
- Carlos?! Nossa, a tempos que não nos vemos hein?! Me desculpe ter batido em teu carrinho - desculpou-se de imediato o mau motorista.
- Ora, não há com o que se preocupar. Anda cá, dê-me um abraço Felipão.
E foi neste exato momento em que ambos puderam observar seus carrinhos de compra. Sem alguma demora Felipe comenta:
- Vejo que tem estocado muita comida, meu caro amigo.
- Estocado? Isto aqui não passa de um mês!
- Um único mês? Mas o carrinho está lotado!
E como um gênio surge para realizar nossos desejos ao esfregarmos a lâmpada mágica, de trás de uma das estantes surge uma moçoila loira, alva, de olhos claros e poucas sardas ao rosto, e diz num tom de companheirismo:
- Que tal esta torta amor?
- Ó, boa idéia, Júlia vai adorar! - responde Carlos à tal moça, vira-se para Felipe e diz - esta é Juliana, minha esposa, e Júlia é a nossa filhota que está com a babá neste momento. E Juliana, este é Felipe, aquele amigo que te falei a respeito.
- Encantado Juliana!
- Igualmente Felipe!
Juliana então retoma sua atenção às suas compras, e mais que apressadamente Felipe ressalta à Carlos:
- Vejo que formou uma bela família!
- Vejo que ainda está solteiro.
- E como tem tanta certeza disto?
- Seu carrinho está quase vazio, porém só comprou enlatados ou congelados. Típicos alimentos de solteiros.
- Não é verdade!
- É sim!
- Talvez...
- Certeza! Felipão, toma um jeito, ou ficará para titio. Agora tenho de ir, marcamos uma cervejinha futuramente, certo?!
- Tudo bem...
- Tudo bem sairmos, ou tu tomar algum rumo?
- Eu ao menos sei se levarei sardinha ou palmito.
- Te ligo então. Até mais!
- Até bro, até!
Felipe então decidiu-se pelo palmito. Nunca gostou de ver casais, ainda mais casais felizes, e um pouco menos se forem casais de amigos, já que isto o fazia lembrar da instabilidade amorosa, dos abandonos, dos repugnos e da solidão. Lhe apertava o peito ver casais, e ainda mais belos casais.
Nunca mais comprou comida enlatada. Decidiu cozinhar por si só, para tentar enganar a solterice. Agora quem vê seu carrinho de compras não diz prontamente que Felipe é um solteiro, às vezes é até confundido com um marido prestativo que vai sozinho às compras. Dia desses encontrou com outro amigo que não via a tempos, e pode até ludibriá-lo fingindo ser casado. No fim das contas, já não precisa mais decidir entre levar palmito ou sardinha. Agora é quase casado.

Batatas

Fim de feira-livre. É possível enxergar ao chão dezenas de unidades de frutas ou legumes esparramados, abandonados e esquecidos, como se outrora não fossem fonte do sustento de feirantes anônimos, trabalhadores e necessitados.
Muitas são as crianças que anseiam saborear os frutos ao chão. Muitos são os adultos que chutam, pisoteiam e repudiam os alimentos naturais. Alguns poucos adultos da infância perdida e futuros desconhecidos, ficam a espreita degustando fantasiadamente os frutos abandonados, aguardando o momento em que aqueles muitos adultos de boa aparência, do estômago cheio e da mesa farta, deixem de brincar ou ferir os alimentos ali ao chão que tanta diferença fariam às pessoas desoladas, famintas e preconceituadas.
Final dum dia qualquer. Estima-se que no Brasil, toneladas de batata são descartadas diariamente, mesmo que no contraponto tenhamos um elevado índice de miséria nacional, ocasionando obviamente a desregularização básica sanitária e cidadã, posto que a renda subnutre o suficiente para extinção da fome e implantação de condições adequadas de higiene pessoal. O reflexo deste estado desigualitário é exata e precisamente a fome, a má aparência e doenças infecto contagiosas. O fedor pútrido duma batata ao ser descartada é tão intenso quanto o desejo por alimento dum faminto. O produto quando descartado não gera lucro. O produto quando doado acrescenta positividade ao espírito de quem doa, e felicidade ao recebedor. A dura realidade da oferta e da procura. Uma vez que o preço da batata diminuísse, a aquisição seria maior, o que geraria maiores lucros, desperdícios menores e aumento de espaço livre terrestre. Com maior aquisição de batatas, a fome seria menor, e se doado o excedente gerado, a fome poderia ser ainda menor, os fatores decompositores reduziriam as toxinas e gases nelas contidas, o que agravaria de forma menor a camada de ozônio. O faminto em posse da batata alimentaria-se, e com isso reforçaria suas energias e organodefesas, ocasionando a redução de doenças, o que significaria um número menor de bactérias e a mortalidade sentiriam tais mudanças, o que influenciaria a movimentação da econômia, e também a contribuição cidadã com a urbe, posto que as batatas ao chão num fim de feira-livre, seriam as batatas à panela de quem necessita numa hora qualquer, em qualquer que seja o dia. A culinária nacional acerca da batata aumentaria e tornaria-se corriqueira, o que traria mudanças à culinária nacional, englobando múltiplas culturas. Uma bata. Um cidadão. Descarte. Envolvimento. Investimento.
Detalhes vertentes e obstruídos por um cabresto fatídico fictício. Uma batata pode dizer tanto dum país, quanto um país pode dizer duma batata. Cabe a nós escolhermos o que enxergar.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Sim e não

Eu nunca quis tanto um abraço seu como eu quero agora, como eu quis ontem, como quero para amanhã, e como eu sempre quis. Controverso assim, acabo seguindo calado, e calado assim acabo dizendo muito mais de mim.
Pensando bem, acho que não existe o 'nunca'. O 'sempre' acaba prevalecendo. Eu sempre desejei essas bobeiras conjugais. Eu sempre queixo-me pelos fautosos afagos. Eu sempre retenho as palavras contigo, pois penso eu, que de nada elas adiantariam ao expressar meus sentimentos por ti. Acabei aprendendo que 'Eu te amo' tem ainda mais peso do que outrora imaginei, outrossim, percebo que existem certos 'eu te amo' subliminares em certos dizeres. 'Eu preciso de você'. Querer nem sempre é poder, e querer muito difere de precisar. Quero tanta coisa, mas acabo não adquirindo: Tudo bem! - Acabo pensando. Precisar é vital, precisar não é mero mimo. Percebo que existem não um, mas inúmeros 'eu te amo' dentro de uma única frase.
Meu coração sabe do que estou falando. Acabo acreditando que não é bem 'o querer', porém não pecarei em dizer que é de fato 'o necessitar' que sinto ultimamente. Cadê meus afagos e juras de amor? Cadê você aqui do meu lado?
Se de fato existe o 'nunca', este seria sinônimo de felicitações à mim recentes. Encerro, assinando como um triste mero passageiro terreno, muito embora não me cale a pergunta na cabeça: Será que sempre vai amar?

terça-feira, 18 de maio de 2010

O que muito tem a ver

Saudade é a extensão do amor. Agindo como uma vertente de paixão, diferenciando-se apenas na maneira de ser ver ou sentir as coisas, posto que a saudade é justamente um desconforto, uma eterna reclamação da ausência de quem se quer. Acho mesmo que o amor muito tem a ver com a saudade, já que não há amor sem boas recordações, e não existem boas recordações sem vontades de se fazer tudo de novo. E mesmo que por algumas horas, ou alguns momentos, recordar em tudo que vemos quem nós queremos, é justamente a maneira mais expressiva e sincera de se dizer eu te amo. Acho mesmo que amor, é sinônimo de saudade.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Au revour!

Certa vez perguntaram qual era para mim a palavra mais forte que conhecia, e lembro-me na ocasião que respondi quase hesitando que, minha palavra favorita era 'anseio', posto que remete a um desejo ainda maior que o desejo carnal e/ou espiritual.É desejo, uma espera quase abstrata e conceitual. Neste mesmo dia aprendi que uma das palavras mais poderosas é, 'venero', pois bem como anseiar, venerar é mais que idolatrar, é mais que amar, é submeter-se e viver para uma segunda pessoa e não para si.
Hoje compreendo - num dia frio como este - que são justa e exatamente estas palavras que sibilam ao meu coração quando meus ouvidos já não querem escutar nada além de sua voz. Anseio seus braços me apertarem com tanta força que, eu riria da maneira como tenta mostrar-me tamanho afeto que sentes por mim, e te venerar, assim dessa maneira, sem sequer indagar um único ruído, te falando com meu olhar o quanto eu esperei por alguém como você, como à mim.
Hoje compreendo que estas palavras são perfeitas transcrições de meus mais sinceros desejos, e sei que tu me seria muito útil hoje ao me acalmar desse meu estresse por simplesmente não te ter ao meu lado.
Cada dia mais cansado. Cada dia mais sem você. Cada dia mais sem mim. Cada dia mais cansado de não te ter junto à mim.
Só sei que amor igual ao meu se encontra aos montes, e talvez seja este o motivo de eu não ser exatamente o procurado, muito embora eu te procure em cada rodapé de minha casa, em cada poeira que se esconde de mim, e em cada carta de um amor saudoso que na verdade nunca existiu.
Às vezes me dá uma vontade de ir embora de vez...Às vezes me dá uma vontade de você...
Por hoje chega, não quero mais ter de desabafar e acabar chorando palavras à esta carta, contudo, anseio te dizer coisas que já não se podem ver, coisas que só o coração pode entender, afinal, fundamental é mesmo o amor e é impossível ser feliz sozinho.
Anseio seu venerar, e venero seu anseio. Bem queria eu que minha vida fosse uma novela global, posto que por fim tudo que se presumiu acontece, e é sempre este mesmo clichê de que tudo acaba bem e que mesmo os malefícios são convertidos em perdões. Perdoe-me se meu amor me transborda o peito e invade este blog, mas eu só queria dizer mais uma vez: Eu te amo!

terça-feira, 11 de maio de 2010

A ficha nunca cai

Dias desses me observei no espelho, e confesso que não notei diferença sequer, logo de imediato. Não me recordo do exato momento em que a ficha começara a cair pra mim, porém recordo com perfeição que caíra tão pesada quanto uma rocha, agredindo e alertando todo a minha consciência existencial. Acho que a ficha nunca cai. Rotineiramente olhamos nossos reflexos em espelhos, vidros, ou mesmo em acessórios reluzentes, e mal percemos que aquela ruga ou aquele pêlo que não estava ali no dia anterior, significa muito mais do que mera desatenção de nossas retinas. A nostalgia que sentimos ao olharmos álbuns de família é na verdade um verdadeiro apelo do nosso corpo para nossa consciência: o tempo nunca parou. Acho que a ficha nunca cai. Mesmo depois de um revival de emoções, de lembranças inacabadas e assuntos mal resolvidos, ignoramos aquele fio de cabelo branco e brincamos feito crianças com pessoas que gostamos, e determinadas vezes, até mesmo com quem não conhecemos, muito embora em algumas ocasiões façamos isto para provarmos para nós mesmos que nunca deixamos de ser aquela criança que encontra o melhor amigo, simplesmente ao saber que um coleguinha gosta tanto de refrigerante quanto ela. Vemos tantas pessoas chegarem, e partirem. Presenciamos até mesmo a nossa partida, e as idas e vindas da vida. Sobrinhos, netos, filhos, amigos,namoradas, ex-namoradas, batizados, funerais, casamentos e divórcios. Tanto passa, e fingimos que não percebemos o quanto passa, inconscientemente negamos que o fim não tarda, que aquele hit que ninguém mais escuta não é demodé, e que aquele espelho do guardaroupa de nossas mães é que encolheu e não nós quem crescemos. Acho que a ficha nunca cai, entretanto começara a cair pra mim quando notei que meu blog já ultrapassa a marca dos oitenta textos, que escrever pra mim agora tornou-se mais que vício, e que meus dedos já calejaram com as cordas do violão. Nunca saberemos quanto tempo ainda nos resta, e tentamos enganar esta sentença fingindo ser as crianças que nossos corpos não nos permitem mais ser. Nossa coluna se nega a acreditar que ainda não tomamos tento com o mal uso dela. A ficha nunca cai, e acho que eu sempre vou deixar o tempo me levar, sendo eu esta eterna criança que ri em horas erradas, que simplesmente corta a barba quando já grande e alva, e que escreve imperfeita e prolixamente as estranhas sensações cotidianas de se olhar o espelho. Ao menos quando a ficha me cair, eu ja terei me felicitado o suficiente com a minha passageira vida.

sábado, 1 de maio de 2010

Não

- Não quer?
- Não posso.
- Não tenta!
- Não me permitem.
- Não pede permissão.
- Não sou capacitado.
- É bom o bastante.
- Existem melhores!
- Ainda é bom o bastante!
- Não sei como.
- Não tenta descobrir.
- Não sou como os outros.
- Não há nada de errado nisso.
- Não existe reciprocidade.
- Não começou algo para ser recíproco.
- Será?
- Certeza!
- Não tenho coragem.
- Não tenha medo.
- Não sou deste status.
- Continua sendo bom o bastante.