terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Verdades sobre mim #2

Não optei por nascer,
mas foi enquanto nascido,
que acabei optando por viver,
e decidi isso envolto pela barra de seu vestido.

Hoje, estas horas que passamos calados,
em nada assemelham-se à outrora,
que a exasperava te deixando em maus bocados,
a sujando, ou berrando em seu ouvido de hora em hora.

Tão inerente quanto infinito,
assim posso definir o meu amor por ti, sim,
e mesmo que calado - ou estressado - tenho dito,
te quero sempre, já que o sempre não tem fim.

Perdão, se como filho sou ótimo ausente,
todavia, os beijos em sua testa já enrugadinha,
é recíproco naquele seu abraço quente,
tão indispensável pra mim és, mãezinha.

Eu me pego memorando meias sujas de lama,
e as chineladas que sempre me prometeu,
a maneira como ainda hoje prepara minha cama,
e as lições de moral para este filho seu.

Assim de longe a admiro,
e egoistamente não pronuncio meu amor,
mas com medo que ele me escape por um tiro,
escrevo estes versos para me ilibar da dor.

Não optei por nascer,
entretanto tardiamente escolhi naquela barra de vestido,
que prefiro do seu lado viver,
à nunca ter nascido.

(...)

Eu te amo mãe.

Sônia Pereira da Silva Rodrigues ♥

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Verdades sobre mim #1

Chegara, e de sopetão me deixara atordoado,
tornando-me tão desejoso quanto envergonhado,
como se por um cupido, havia sido apunhalado,
e feito num feitiço, a curiosidade houvesse me aguçado.

Fora evidente este ofício do acaso,
que pontual, dispensou o atraso,
fez florescer as flores em meu vaso,
e deu-me a mulher, com quem eu me caso.

É tão intensa quanto um lampejo,
e não adianta onde está, pois em tudo eu a vejo,
sabe que de fato, não ter nada além de ti é o que almejo,
pois é a maneira como a amo, voraz feito um desejo.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Parabéns Karina

Se não pelos dias já riscados em calendários passados, é pela intensidade de nossa amizade é que percebemos que, de repente, um dia virou cinco anos. Alegrias repartidas e intimidades segredadas fazem de nós mais do que meros amigos, e tu sabes tanto quanto eu, que nossa amizade sempre foi de fato anormal. Anormal mesmo é a maneira em que quasiperpetuamos esse nosso laço, tão nosso quanto o mundo que um dia sonhamos juntos desbravá-lo.
Dezessete primaveras duma maneira singular, e outras cinco com minha excentricidade ao seu favor. De maneira alguma reclamo que o tempo e/ou acaso mova-se de maneira injusta, e parafraseando Renato Russo, afirmo que agimos certo sem querer, foi só o tempo que errou. Se não pude atravessar a limitação da linha tempôrea para que pudessemos soprar por dezessete vezes juntos essas velas, não foi por falta de tentativas, outrossim, estando longe de ti em mais um aniversário seu, percebo que sou de fato hipócrita, e não nego, entretanto acima de tudo, julgo-te minha irmã, que não nascera do ventre de minha mãe, mas que brotou em meu coração.
Parabéns Karina, por ser mais do que a pedem, por ser uma vencedora num mundo perdido, e por ser minha familia ainda que nossos sangues não possuam a mesma linhagem sanguínea. De fato, sempre vou lembrar de ti, por quantas forem as primaveras que hão de vir, muito embora quero que saibas que, mesmo distante assim, orgulho-me de ti metade.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Pequena.

Pequena, da meiguice inerente,
e do ar de gracejos,
apertados são seus abraços,
e demasiadamente doces os seus beijos.

Pequena minha, da pele morena,
e do sorriso reconfortante,
me perco em sua voz tão serena,
entrego-me à ti não obstante.

Pequena, que me felicita,
e me atiça os mais obscuros desejos,
que me envergonha quando carinhosamente me fita,
permita-me, princesa, realizar seus realejos.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Dependência

Não por volúpia, tampouco por clemência,
deve-se tão somente ao acaso.
Ilibado por essência, e excelso,
tão quente que, em sua presença transpiro.
O amor, penso eu, sempre se faz presente,
e tudo o que dizem a respeito da inexistencia deste sentimento são falácias,
posto que o amor está mesmo naquele suspiro irado, repleto de mil intenções.
O que existe, ou deixa de existir, são os crentes no amor,
aqueles que se rendem a sua pressão, e tornam-se apaixonados,
e outros tantos que não se permitem sentir, e vivenciam uma sobrevida ilusória.
Se ser fraco quer dizer tornar-se dependente daquilo que se sente, então sou gladiador caído,
que há tempos rendeu-se ao coração, e deixou de sintetizar padrões emocionais.
Prefiro não ser forte como tantos se dizem, prefiro não depender somente de mim, ainda que às vezes, estar sozinho me traz certo repouso, contudo, sobre tudo é o amor, e a vivacidade em ser dependente de alguém que nos faz sentir o quão felizes podemos ser, ao nos rendermos às nossas fraquezas.

domingo, 21 de novembro de 2010

Farol

Envolto em meus pensamentos, sou pego por toda a incertidumbre acerca de minha existência.
Se ter de durmir menos que outrem me emputece tal qual receber ordens, quiçá não receber os devidos méritos por todo o meu esforço.
Me pergunto se este tal esforço não seja invenção da minha cabeça, bem como os monstros que habitavam debaixo de minha cama enquanto criança.
Será mesmo que mereço tamanhos os méritos? Ou será que careço destes mimos e atenções que ora são desviadas?
Seria eu egoísta ao reclamar que tenho de me esforçar triplamente por tudo o que quero, havendo pessoas que queiram somente poder andar, e são limitados pelo próprio corpo?
Destas tempestades em copos dágua estou disposto a me livrar, se deste cansaço e desta pressão alguém me livrar.
Tudo que quero é ser um farol para aqueles que, enquanto perdidos tenham um rumo para seguir. Não confunda esta posição de farol, com a posição de deuses, de longe não mereço ser beatificado, entretanto, meu ego exige ser parcimoniamente exaltado.
Minhas mais sinceras desculpas à aqueles que em mim depositaram sua fé, pois eu falhei.
E enquanto à mim?! Eu quase me perdi...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Cuidado homem.

Cuidado homem, não creia que você possa pensar o que quiser.
Guarde para si estes seus sentimentos e opiniões,
policie-se, ao acordar e em tudo o que fizer,
esconda-se de você mesmo, neste mar de supressões.

Não demonstre, ou disfarce n'algum dialeto,
Cuidado homem, não tarda e eles chegam,
tornando-o em lamúrias, ou te findam em um saco preto,
logo, não pense o que quiser, pense o que pensam.

Não mais me prolongarei nesse aviso,
ou mesmo eu serei vetado do pouco que temos,
então quando partir, force um sorriso,
e finja que não exista nada para temermos.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Doravante, brindarei

Doravante brindarei as minhas efémeras conquistas, e não mais me perturbarei com todas aquelas derrotas contundentes.
Brindarei esta Lua, esta massa negra, e porque não, todo este vazio que fica, quando você vai?!
Brindarei cada sentimento que tenho, mesmo os mais malévolos, pois apesar dos pesares, ainda tenho muito com que sentir.
Brindarei sua boca, seu abraço e sua perna enroscada na minha.
Se outrora agia feito parcialidade numa penumbra, hoje saúdo por ter me feito um completo cretino, um completo amante, e um completo amado. Fez daquele simplório garoto, com toda aquela tormenta aortada, num completo pensador.
Se hoje sou completo, é porque me completa. Se hoje brindo, é porque me deu motivos para brindar - mesmo em meio à tanta desventura decorrente, que fere minh'alma feito agulhada certeira no globo ocular.
Não mais dependo de meus óculos para aguçar a minha visão, contudo, dependo única, estranha, e extremamente de ti, desse seu olhar, dessa sua lábia, dessa sua voz rouca, e de tantos outros predicados que me tomariam deveras linhas destas transcrições.
Hoje brindo a nós, ao meu antigo eu, ao meu novo eu. Hoje brindo à você, por nosso encontro tardio, mas regulado, casual, todavia duradouro.
Hoje brindo pela perpetualidade de nossos sentimentos, e não por nossos efémeros atritos.
Confesso, que brindaria tantas fossem as taças, simplesmente para que você não sumisse ao perceber que nada seria sem você.
Doravante, pretendo exprimir à ti o meu amor, e as pedras o meu ódio. Hoje brindo à você dentro de mim, e ao meu eu, que tu criaste.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Despir

Eu sempre chego atrasado, e demasiado é meu sono,
e mesmo que não transpareça, sofro quando a desdenho,
sabes que não sou de todo errado, e sei que não sou seu dono,
perdoe-me se em ti descarrego minha ira, e não o amor que tenho.

A saudade chega sempre em péssimas horas,
se é que de fato a saudade venha a calhar em algum momento,
não me peço pra sumir, mas sei que o fazendo, tu choras,
e outra vez o meu amor se confunde em outro sentimento.

Se escrever é sinônimo de sentir,
e vitimar implica ser o vilão,
destes trajes literários prefiro me despir,
a mais uma vez lhe ferir o coração.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Guerra.

Pavor, de tão forte a alma geme,
entendo o porque de todos os que beberam,
e perdido por onde quer que vá o leme,
finjo respeitar biografias daqueles que morreram.

A dor eu não entendo, mas sinto apertar,
e enquanto buscarmos fortaleza em conflitos,
desnecessariamente, vidas iremos descartar,
e estes, tornar-se-hão frutos do mito.

Um mito, perpetuado, e cegamento seguido,
que diz que, pelo sangue é que se ganha,
mal percebem que, a chuva carmesim e o estampido,
demonstram que na guerra, a vida é uma barganha.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Confissão

Antes que a noite emerja, e que torne-se tardia estas ações,
devo confessar-te, ainda que em risco ponha minha integridade,
sou todo seu, até que se atravanquem as minhas paixões,
e então sobre somente a volúpia, o espelho e a minha idade.

E saiba você, que dar-te-ei o meu amor de todo o bom grado,
que por todas que sejam as palavras, salvo as falácias,
eu entoe com ar bravio e impetuoso, e não amedrontado,
o amor que espero com o relógio, e sinto em todos dias.

Sou adicto por você, e sinceramente só sei te querer,
ajo como se nada soubesse, mas como quem muito lhe quisesse,
e tudo porque, não consigo, não com palavras expressar o tal arder,
que queima em meu peito, mas queima sem doer.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Prelúdio dum livro qualquer

(...)
Não se importava com quaisquer que fossem as consequências, ao menos era o que podia-se pensar, quando ele com seu binóculo, defronte à janela do prédio vizinho, fixava-se ao espiar a sua nova vizinha.
Ela, havia se mudado há pouco para aquele prédio - sabe-se lá Deus por quais motivos - e parecia simplesmente não notar que havia todos os dias um vizinho a lhe espiar, dia após dia, como se nada mais tivesse importância.
No quadrante onde moravam, toda a vizinhança se conhecia. Toda a vizinhança, salvo aqueles dois, que nunca haviam ao menos trocados olhares - mesmo aqueles sem mil intenções - em qualquer que fosse a viela.
A julgar pela rotina da garota - ao menos a rotina que o garoto espiava - a garota era tão só quanto ele. Ele, cujo nome pouco importa nessas palavras, não era só, muito embora algumas vezes sentia-se assim.
Ele não se importava em filmar, mesmo que com os olhos, as ações da garota. Ele acompanhava seu despertar, seu desjejum e também a sua saída para o trabalho. Ele também esperava ansiosamente o seu regresso, já que não saia de casa para trabalhar. Na verdade, não era muito de sair. Ia até a padaria todos os dias, num horário que precedia o despertar da vizinha. Comprava sempre um sanduiche natural de peito de peru, e uma caneca de cappuccino. Na saída, acabava passando na banca de frutas, e ali escolhia algumas frutas frescas - as de suco amarelado na sua opinião eram as mais gostosas - e, encerrando seu itinerário matutino, passava na banca de revistas do seu Gregório, que chamava-se "A Banca", e comprava alguns gibis - de preferência, os do lanterna verde.
Voltava para casa, e abria o seu notebook. Conectava-se, e religiosamente na mesma ordem abria um blog do qual era fã, e então seguiam-se deste, cyanides, facebook, youtube, e por fim, seu próprio blog, onde escrevia sobre algumas conjecturas que possuia, mas não as praticava. Abria então alguns softwares, onde manipulava algumas linhas e pixeis, até que estas se transformassem em imagens. Este era seu trabalho, desenhar coisas que ninguém mais conseguia desenhar. Estava tão viciado na garota que, sabia exatamente o horário em que chegava. Então desligava o notebook, e ligava-se no mundinho de espião que havia criado.
Se ao menos pudesse lhe dar um oi. Se ao menos pudesse lhe dizer seu nome. Talvez seria mais fácil para ele simplesmente mostrar o retrato que fizera da garota, para a própria musa inspiradora. Olhava ele os seus desenhos, e pensava: " Quem dera tê-la em carne e osso, e não em imagem".
Este era seu trabalho. Esta era sua rotina.
(...)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sobre ver, mesmo com os olhos lacrados feito baús velhos

E se por um instante abstraio-me de tudo,
sou capaz de entender mesmo as mais complexas organelas invisíveis à olho nú,
sou capaz, e logo entendo que isso pouco importa,
pois o que importa mesmo é o que sente, não o que se vê.

Visão é plurissignificativa!
Visão é uma dádiva que não se manifesta em qualquer um,
mesmo que existam pessoas que estejam longe de serem rotuladas como qualquer um,
a visão ainda assim não as atinge.

Existem cegos por limitação física,
alguns tantos cegos por limitação psicológica,
existem cegos que pensam enxergar, e há ainda aqueles que não se permitem ver.
Cegos porque vêem unicamente com seus olhos.

Os amantes das belezas visuais que não me entendam mal,
todavia para mim, mais belo que ver, é sentir,
e neguem se puderem, mas sentimos muito mais o mundo de olhos fechados.
Assim não vemos suas impurezas, e sentimos suas positividades.

Se abstraio-me, sou capaz de ver com os olhos fechados,
porque deste jeito, assim tão simples, é que nos libertamos da limitação de somente ver o mundo com nossos olhos.
Não deveríamos nunca depender unicamente de nossos olhos, afinal, vai que...

A visão é o conjunto de coordenadas cerebrais, que consolida aquilo que sentimos,
logo tudo que vemos é o que sentimos, mas de uma maneira uniforme, extensiva porém limitada.
Quando nada se vê, entretanto tudo se sente, o sentir é de ainda maior prazer do que o simplório ver.

Sei que isso soará como loucura, ou egoísmo de minha parte,
e que fique bem claro que sou contente por ser uma pessoa que enxerga também com os olhos,
mas acabar vendo unicamente com os olhos, é limitar-se.
Feche os olhos, e deixe a chuva escorrer seu rosto, e todo este texto fará sentido.

Sou grato à Deus pela minha visão - sim, à Deus, pois sou convicto em minha religião - e contente por ser capaz de olhar com os olhos da alma,
afinal, se de quimeras mil, castelos ergo, porque não transpassar limitações físicas?
Pratique o sentimento, e garanto que expandirá tuas visões.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Ultimo Romance

Eu encontrei quando não quis
Mais procurar o meu amor
E quanto levou foi pr'eu merecer
Antes um mês e eu já não sei

E até quem me vê lendo o jornal
Na fila do pão, sabe que eu te encontrei
E ninguém dirá que é tarde demais
Que é tão diferente assim
Do nosso amor a gente é que sabe, pequena

Ah vai!
Me diz o que é o sufoco que eu te mostro alguém
Afim de te acompanhar
E se o caso for de ir à praia eu levo essa casa numa sacola

Eu encontrei e quis duvidar
Tanto clichê deve não ser
Você me falou pr'eu não me preocupar
Ter fé e ver coragem no amor

E só de te ver eu penso em trocar
A minha TV num jeito de te levar
A qualquer lugar que você queira
E ir onde o vento for
Que pra nós dois
Sair de casa já é se aventurar

Ah vai, me diz o que é o sossego
Que eu te mostro alguém afim de te acompanhar
E se o tempo for te levar
Eu sigo essa hora e pego carona pra te acompanhar

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Sabe...

Já faz tempo que deixei de ser cabeça, para ser coração.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Enfim, eu

Enfim, feliz. Pode ser cedo demais para crer que esta felicidade repentina seja sólida o suficiente para que eu não torne a entristecer-me, entretanto feliz.
Sim, feliz. Estou satisfeito com os rumos que meus planos tem tomado, e sinto como se cada semente de meus esforços começasse a germinar, consolidando assim motivos para que eu possa esboçar os mais sinceros sorrisos em minha face, que outrora estampava somente o cansaço.
Atrevo-me a dizer que tudo está um mar de rosas - considerando que rosas possuem espinhos. Não há melhor ilustração do que esta para representar minha vida ultimamente, posto que, mesmo que nem tudo tenha se resolvido, que nem todo dinheiro tenha sido ressarcido, que nem todos os sonhos tenham sido realizados, ainda assim, aprendi a ser feliz com a pequena fagulha ígnea de prosperidade que há em mim, pois foi somente dando um pouco mais de atenção pra felicidade é que ela estendeu suas mãos para ajudar-me. Acabei aprendendo a ser feliz com o pouco que tenho, com os pequenos detalhes que muito importam no fim das contas, e aprendi que a grandeza das coisas, é você mesmo quem determina. Aprendi que a minimização do meu círculo de amizades, só o tornou mais confiável, que as lembranças de grandes amores passados nada se comparam a uma pequena tarde com você. Aprendi que a prosperidade é a ausência da necessidade.
E enquanto não surge nenhum motivo para contradizer o que agora escrevo, registro minhas palavras e as valido ao menos por hoje, e de peito estufado, com as covinhas que surgem enquanto tenho um sorriso no rosto, devo confessar: estou enfim, feliz.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O Calculista

Não busco em mim o que procuro em outrem. De fato, os meus anseios tornam-se também propensões às quedas que tanto temo.
Não é nada fácil ter de ver o mundo sob cálculos, sejam eles matemáticos, ou estratégicos, entretanto, deixar de ver o mundo à essa minha maneira não é algo que eu possa escolher. Ser calculista não é raro, tampouco dificultoso, mas saiba vocês que o diferencial neste ramo está no sucesso obtido em cada cálculo, e soaria paradoxal se dissesse que o diferencial também está no fracasso em suas escolhas. É justamente aí que entra em cena os meus mais profundos devaneios, arrepios na cervical e medos expelidos por gotículas de suor.
É com a palavra ''se'', que frequentemente inicio meus pensamentos. E é tendo que pensar sempre em todos os porquês, e as reações que eles possam desencadear, que eu acabo apavorando-me tanto em fazer a escolha errada, que acabo nada fazendo, e esta é a ruina dum calculista, nunca poder concretizar seus pensamentos. De nada vale a teoria, se ela não funcionar na prática.
Sinto como se calculasse para que não tivesse medo na hora de agir, outrossim, é calculando que acabo não agindo por temor. Seria tão mais fácil se não houvesse precisão em arcar com as consequências, todavia, esta não é uma opção.
A garota que não beijei, a frase que acabei engolindo, e mesmo as vestes que coloquei dia desses, não passam de frutos dum material irresoluto de devaneios e possibilidades possíveis. Mesmo em casa palavra deste meu testemunho, existe o minucioso cálculo na escolha dos sentimentos que anseio transmitir.
É frustrante ter de colher somente as maçãs podres duma safra de planejamentos intensa, mas já não tenho escolha se quiser parar. Tudo que tenho à fazer é plantar as sementes certas, para que assim possa colher os frutos que tanto desejo.
A única coisa que peço, é compreensão, pois a minha falta de ação é decorrente da incertidumbre das consequências, e como humano qualquer, temo em perder o que agrada. Sou calculista, mas sobretudo humano, e que fique bem claro que dia após dia penso numa maneira de tê-la para mim.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Não há como negar

Tudo o que quer é tê-la somente para si, mas tudo o que consegue, é ser somente dela.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sobre as coisas que aprendi ao chutar pedras

Muitas de minhas certezas foram concretizadas em meio a quicadas duma pedra qualquer, numa estrada ínfima, e devo assumir que, chutar pedras durante algum trajeto serve-me como terapia.
Diversas foram as pedras que tive de chutar até que pudesse consolidar as concretudes de minhas motivações, obrigações e autoreconhecimentos, entretanto, aprendi muitos dos mistérios da - minha - vida, enquanto chutava pedras toscas.
Aprendi a valorizar certos detalhes da vida, observando certas lições, que determinados detalhes dessas desvalorizadas pedras podem trazer.
Com as pedras pequenas, notei que bem como alguns de nossos pequenos problemas, enquanto não definirmos um desfecho para ela, ela simplesmente será arremessada à frente, onde tornaremos a encontrá-la. Enquanto não encerrarmos de vez nossos desafios, e não deixarmos de empurrá-los com a barriga, mesmo que tardiamente eles irão nos encontrar, e nos cobrarão alguma reação. E o que fazer quando se está despreparado? Chorar não traz muitas soluções, por isto tornei-me adepto do planejamento independente da situação.
Com as pedras médias, acabei descobrindo que não encarar de vez o que nos machuca, unanimemente irá nos machucar ainda mais se apenas chutarmos mais adiante nossas irresoluções, já que, ao acumularmos deveras feridas minimizadas, maximizamos nossas dores, e exterminamos aprendizados.
E por fim, devo dizer que, com as pedras grandes pude descobrir que não existe maneiras de deixar algumas conturbações simplesmente passarem, e com estas sim pude abrir meus olhos para entender que muitas das vezes somos vencidos por estas pedras, muito embora, são desses machucados que brotam o experiência e amadurecimento que precisamos.
Claro que existirão muitos daqueles que dirão que a única coisa que aprendi ao chutar pedras, foi tornar-me prolixo, todavia à esses eu digo, que somente entenderão certas situações quando passarem por elas, já que existem muitas semelhanças em todo esse nosso percurso, porém a gravidade da situação somente entendemos quando a enfrentamos.
Desde já peço perdão aos que esperavam mais ensinamentos que pudesse lhes transpassar, já que as pedras são estas minhas professoras, sobretudo peço que lhes atentem as adversidades costumeiras que potencialmente são ainda mais nocivas do que as situações esperadas.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

19

Confesso que ao longo desta semana ensaiei os mais diversos diálogos à fim de presentear-me com o mais belo dos textos já feito por mim, todavia, como de praxe joguei toda aquela prosa artificial aos quatro ventos, e decidi por fim descrever unicamente o que verdadeiramente sinto - e vejo.
Hoje completo dezenove anos, e para quem não acredita que dezenove anos seja um bocado de tempo, basta tentar contar quantos sorrisos foram abertos em todo este tempo, e verão quão dificultosa é esta tarefa. Em dezenove anos eu pude aprender que o tempo é mais do que meros ponteiros circulando uniformemente - mesmo que no contraponto, o tempo na realidade é muito menos do que um suspiro que soltamos em horas inoportunas. O tempo é uma unidade de medida, diretamente ligada à intensidade dos momentos. Precisamos de apenas cinco segundos para nós acabarmos com dezenove anos de nossas vidas, e não menos importante, basta apenas um segundo para que nós possamos descobrir o quão alguém é especial para nós.
Em dezenove anos, errei tamanhos erros, que dezenove anos de nada me servirão, salvo para remoer-me escorado em minha poltrona. Em dezenove anos, bastaram apenas alguns segundos para que eu pudesse descobrir pessoas valorosas. Em dezenove anos,deveras vezes, um único segundo foi suficiente para me separar de quem tanto já quis por perto.
Enquanto ensaiava meus dizeres, tomei tento para não tornar-me prolixo, e como em tantos outros textos, iniciar alguma estrofe de queixas à respeito de como em dezenove anos não possuo nenhum grande feito para orgulhar-me, ou mesmo lacrimejar versículos em que a ausência da mulher amada me doesse tanto quanto uma dor fantasma, isto sem citar acontecimentos como a precoce responsabilidade financeira-residencial, e o estresse contundente, entretanto, o que seria de meus textos se não houvesse a inerente melancolia?
Dezenove primaveras sem festejos. Dezenove calendários sem nenhum grande marco. Dezenove carnavais sem mimos. Dezenove, que mais me parecem trinta e cinco.
Levei dezenove anos para entender o porque algumas poucas pessoas me parabenizam na data de meu aniversário. Hoje posso entender que quando dizem "parabéns", é porque valorizam o meu esforço em lutar dia após dia, e ainda assim conseguir sorrir. Levei dezenove anos para entender que eu também posso me parabenizar.
Tudo bem que minha mãe precisa de um lembrete para me jurar bons votos, tudo bem que menos de um quinto dos meus amigos lembraram que dia é hoje, e tudo bem que minha rotina não tenha sido quebrada denovo, afinal de contas, já estou crescido para acreditar que ainda existam motivos para se festejar.
A verdade é que por dezoito anos as coisas sempre foram da mesma maneira, e errei ao pensar que ao meu décimo nono ano de vida alguma coisa mudaria, outrossim peço que não me venham com todo aquele discurso sobre a existência de tantas outras pessoas em situações piores do que a minha, pois se não pararam para pensar, tenho prazer em lhes informar que não sou do tipo que sente-se melhor ao ver alguém definhar, esqueçam tais comentários, e isto servirá à mim como presente, mesmo porque, analisar pontos ainda mais negativos que o seu, não torna sua realidade melhor.
Num grande resumo de minha vida, conheci digníssimas pessoas, e também perdi valorosas companhias, errei, acertei, chorei e até mesmo praguejei, todavia que fique registrado que, ano após ano, sob o silêncio dos amnésicos de plantão, silenciosamente dou-me os mais sinceros parabéns, pois sei que não é nada fácil viver como vivo.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Não é o fim, mas permita-me

Dispenso falsas previsões, bem como quaisquer falácias positivistas e discursos ensaiados em frente ao espelho.
Sei que tal como o bem, o mal existe, e obviamente, cedo ou tarde ele há de agir. A verdade é que aprendemos a mentir todos os dias. Mentimos ao respondermos de maneira programada algum cumprimento, ao fecharmos nossos olhos para certas situações, e ao aconselharmos clichês esperançosos à quem desejamos o bem - e arbitrariamente à alguns punhados de desconhecidos.
O que me incomoda em toda esta situação, é a inadmissão em nos sentirmos mal. Somos metralhados por trovas sensacionalistas, dizeres impactantes e engenhosos jogos psicológicos, unicamente para encararmos unilateralmente nossas desventuras, voltados para face do contentamento, onde a máxima predominante é: "Ah, poderia ser pior..."
Sabemos que não se finda o mundo quando casais acabam rompendo, e também sabemos que não nos tornaremos lobotômicos com a inesperada demissão, sabemos até mesmo que nosso refúgio sempre será o senhor nosso Deus, outrossim, o que muitos não conseguem entender é que, sentimentos sobrepoem razões em quaisquer situações.
Se choramos ao rompermos namoros, é porque queremos extravasar nossas tristezas.
Se enfraquecemos quando deixamos de comer por vontade própria, é porque queremos nos penitenciar pelo mal destino.
Todo aquele drama, a lúgubre ansiedade suicída, e aqueles tantos planos furados e insensatos, são unicamente demonstrações duma fase em nossa vida que temos ciência de que em breve passará, muito embora isto não exclua nossos desejos em mostrar à quem nos cerca que estamos mal, todavia nos fortaleceremos em breve. E este desejo em mostrar que estamos passando por alguma desventura é tão grande quanto o desejo de não ter que ouvir conselhos rotineiros de que tudo virá no momento certo, que há males que vem para o bem, ou mesmo que, feridas hão de cicatrizar, e nos tornar mais fortes e vividos.
A grande verdade é que cada um de nós coexiste nestes dois lados da mesa. Ora aconselhamos, ora somos aconselhados. O que todos nós sabemos é que, ao pedirmos conselhos não nos interessaremos em ouvir nada além do que queremos ouvir. Isto ocorre porque ninguém além de nós mesmos compreende as razões, motivos e sentimentos envolvidos. É bem verdade que para toda ação, exista uma reação, porém, para cada caso, um caso. Esta diferenciação anula qualquer conselho, sob a jura duma experiência similar. Todos nós tornamo-nos controversos quando o assunto é sentimento.
Entretanto, creio que um meio de se evitar tamanha hipocrisia, é dizermos uma única frase, tão ensaida quanto às que costumamos ouvir: "Eu sei, não é o fim, mas me deixa chorar."

sábado, 7 de agosto de 2010

Sobre ascendências, partidas e permanências

Eu sei que é bem verdade que amizades nunca serão eternas, mesmo porque acredito que após determinado tempo, amizades ascendem-se à irmandades.

Certamente presenciei indas e vindas, e em cada uma delas, ou partes de mim esvaiam-se, ou recebia partes de outrem. Desta vez quem partiu fui eu, deixando não uma única parte, mas minha completa figura com quem desejar guardar.

Desde que habituei-me a escrever minhas próprias histórias, já não espero muito pelo que há de vir em minha história de vida. É muito mais fácil viver sob ficções. Em minhas trovas não preciso madrugar para trabalhar, exaurir-me para criar um bom curriculo, tampouco entristecer-me com as partidas de amigos, e amores.

Saiba vocês, dos piores ao melhores amigos que já conheci, que sempre os guardarei em meu peito, pois apesar dos pesares, foi justamente nas feridas que descobri meus pontos fracos, outrossim, para todos aqueles que nada fizeram além de dar-me ombros para que pudesse repousar, que conscientizem-se de minha mais pura admiração calada porém articulosamente expressiva.

Agradeço a todos por todas estas portas que se abriram e fecharam em todos estes dezenove anos, por cada lágrima de tristeza, e cada gotícula de alegria que me saltaram dos olhos.

Vendo assim de fora até parece que fui eu quem partiu, muito embora eu esteja aqui, no mesmo lugar em que me deixaram, aguardando o dia em que os verei completamente diferentes - alguns nem tanto - e assim poderemos saudar nossas antigas paixões. Enquanto essa hora não chega, aguardo aqui sozinho, feito festa surpresa à espera do aniversariante. Tantos partiram, que mesmo sem querer acabei partindo ao ficar no mesmo lugar.

Então, que ascendam-se as luzes, que toquem as cornetas e batam as palmas, pois eu sou a festa à espera dum aniversariante.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Flerte

No instante em que cruzamos olhares, não tivera a intenção, entretanto exortou-me. Me fizera despir todas as minhas incumbências, e repudiar quaisquer obrigações com minha estirpe, unicamente para que pudessemos nos entregar inteira e verdadeiramente por um momento. Naquele instante, nada dissemos - e também nem podíamos - ocupávamos nosso tempo com o velho e sagaz flerte, que potencializava nossas intenções e alimentava nossos egos.
Sobre ela nada sabia, salvo o fato que o seu penetrante olhar de certo perpetuaria-se mesmo nas minhas mais secretas lembranças. Quisera eu ser portador daquele olhar capaz de criar doces deletérios. Sei também que, sobre mim desconhecia qualquer informação, já que mesmo eu às vezes acabo confundindo quem sou se não der uma olhadela em meu RG.
Não era daqui, disto tinha certeza, do contrário, não ousaria olhar para mim, não teria a audácia de flertar com um alguém que repousa em bocas alheias.
Quão penetrante era teu olhar, e quão doce é esta arte do flerte, onde nada se requer, exceto audácia, sim, audácia para que se devore a atenção de quem deseja com gestos e olhares muito-bem-intencionados.
Cruzamos nossos olhares, bem como cruzamos a rua. Continuei em frente de cabeça erguida, sem ao menos virar o pescoço para uma última olhadela, mesmo porque, esta é uma das dádivas que o flerte lhe concede, poder amar e desejar alguém, e por instantes tê-la, então cessa-se o desejo, e nos despedimos sem quaisquer ressentimentos, culpas ou mágoas, e o que fica são boas lembranças.
Sei que possivelmente nunca mais a verei, mas a vida tem mesmo muito dessas arapucas, então se é que deve haver despedidas, que sejam ali, entre olhares, ao meio da rua, onde dois desconhecidos amam-se, doam-se, e despedem-se sem algum arrependimento, afinal o que resta são lembranças, e isto ninguém nos tomará. Costumo pensar que com tais flertes nunca desperdiço chances, apenas vivo os instantes que devam ser vividos. Morena por morena, flerte por flerte, cá estou eu, arrasando corações aos montes.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sobre a alegria

Uma das frases mais sensatas já ditas com certeza fora dita por C. Lewis, com as seguintes palavras: "Não nascemos para sermos felizes, e sim para amarmos."
A lógica em questão, resume-se a uma única máxima, que tornou-se quase clichê, dentro e foras de meus textos, afinal de contas, ninguém é feliz verdadeiramente sem amar.
Tristezas hão de vir, bem como as alegrias hão de dissipar a acinzentada nuvem de amarguras que lhe sonda, e é exatamente com esta certeza que devemos prosseguir sem direcionarmos nossas faces para o solo, afinal de contas, ao contrário de um conto de fadas, a vida real lhe submete a adversidades sem razões específicas, elas simplesmente acontecem, tanto para o bem, como para o mal, e temos de conviver com este fato.
Estar feliz é dar uma pausa de tudo que lhe sufoca. Deixar que a alegria lhe infeste por pequenas coisas ao decorrer de seu dia. Estar feliz, é esquecer que a adversidades nunca cessam, tão somente são adiadas. Estar feliz é dizer besteiras sem sentido, sem alguma preocupação para que suas palavras sirvam de consolo para alguém. Estar feliz é simplesmente poder ser você mesmo, ainda que brevemente. Estar feliz é ver grandes belezas em pequenas coisas. Estar feliz, é permitir-se ser escravo do Senhor amor, e assim sorrir ao ver seu sorriso, e chorar quando tu chor ar.
Hoje estou feliz, e ninguém me roubará este direito. Sorrio hoje, pois já admirei o seu sorriso.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Backstage

As horas esgotam-se, e os dias partem sem mais delongas. Muita coisa acontece em meu cotidiano, afinal de contas, são muitas mesmices para que nada aconteça.
O dia tende a piorar, e a única coisa que me passa pela cabeça é: "Hoje sai um texto". Há tempos, escrever tornou-se minha terapia. Sento-me defronte ao notebook e as palavras acabam fluindo sem ordenanças quaisquer, e voam livremente pelo céu da minha garganta. Nada sai como planejo ao longo do dia, e muita das vezes, sequer uso uma única frase que martelo em minha cabeça no decorrer dos giros dos ponteiros de relógios.
''Hoje não tem texto'', isto na verdade é somente um breve relato de um alguém que escravizou-se neste mundo escrito. Confesso, triste por certas desistências, e alguns outros descasos, entretanto devo lhes confessar, nada disso me faz desistir da vida que sonhei

terça-feira, 27 de julho de 2010

Sou pólo

Meu amor lateja feito enxaqueca, que fere, incomoda e deve ser cessada.
Sou as duas partes envolvidas num romance unilateral. De um lado a contenção dos sentimentos, e do outro, a explosão expressiva do coração dessegredado.
Que me torna tão perecível quanto unguento exposto ao vento?
Não mentirei se disser que ainda espero que seja tua, a voz ao telefone. Abdicaria desta minha memória, somente para que voltássemos a agir como outrora, e mesmo submeteria-me a mais profunda das amnésias para tê-la ao meu lado como na primeira vez.
Quando não recíproco, o amor torna-se a pior das maldições mortais. Viver como um dos pólos de um imã lhe atrai muitas sentenças, com o perdão do trocadilho, e a mais nefasta delas, é ter de entender com os neurônios, todavia não com o coração, que pólos opostos são incapazes de se tocarem.
Felizes mesmo são aqueles que vivem como chicletes, que por mais que lhe incomodem os açúcares em excesso, ainda que inconscientemente, crescem à medida que ajuntam-se, não percebem e tornam-se um só, e se inevitavelmente ocorrer a separação, em cada metade haverá partes remanescentes um do outro.
Sou pólo, não chiclete. Dentre os males, o mal maior é entender que para um pólo, sempre existirá um outro distante de ti.
Ainda que viva a outra face dum amor unilateral, e finja que não me importo com sentimentalismo, e demais atributos que uma amor pode trazer, sei que sempre existirá uma outra metade destituída de paixão, que nada tem a ver com coito, mas sim com afagos. Conhecer a vivencialidade e o calor que traz compartilhar teus afazeres, de ter um alguém para segredar os mais intensos desejos, e fingir não se importar, é mais do que burrice, é falácia. Mesmo que viva o oposto dos pólos, ainda que enrustida, existirá a tristeza. A desventura em saber que para cada pólo, existe um outro inverso, e distante, independente da ordem destes. Sou pólo, não chiclete.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Ócio, Jesus e amizade

E o que fazer quando sabe-se que o caminho que toma é justamente a contra-correnteza das boas-aventuranças?
Ociosos ficamos à margem do grande rio da benigtude, e nada fazemos senão sentarmos e observarmos todas as coisas boas fluirem sem que nós possamos desfrutar de tamanho gozo.
Acabamos nos queixando que em nossa vida nada superamos, nada persevera, e que nada nos alcança, todavia, que fazemos nós para atrairmos as afluentes de bonanças para nossos seres? Nos contentamos com a simples observação duma superfície límpida e ilíbida do rio da bondade, quando o que deveríamos fazer era tão somente mergulharmos de cabeça neste rio de felicidade, alegria e mansidão. Não deixe que as coisas passem por ti, agarrem-las com afinco e esmero, para que assim perdure em ti o rótulo de um alguém realmente satisfeito e feliz com a vida que vive, tendo ciência de que a prosperidade encontra-se na ausência da necessidade.
O rio de benigtude é Jesus, e somente neles podemos encontrar a paz e o gozo que desejamos ansiosamente, feito criança sedenta à espera de àgua. Não deixe que Jesus seja somente uma passagem na sua vida, a qual tu simplesmente observa, admira, mas nada faz senão observá-lo de longe. Jesus quer que adentramos o teu ser, para que assim ele possa adentrar em cada um de nós. Mergulhe neste rio de bonança que é Jesus Cristo, e só assim todas as questões que confundem a tua existência será respondida. Não caminhe somente observando a Jesus Cristo, e sim caminhe segurando em suas mãos, como dois bons amigos.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Não há argumentação

- Eu só quero dizer que te amo.
- Então tu não tens nada para falar.
- Estou com saudades, de verdade.
- Não parece que signifiquei algo.
- Não significou, significa.
- Quando diz essas coisas não está só mentindo para mim, mas para ti também.
- Quando diz essas coisas tu não fere só a mim, mas também à ti.
- As feridas que tenho me dão esse direito.
- As feridas que tenho me dão deveres.
- Tu é quem acha que deve não amar verdadeiramente.
- As feridas que tenho me dão esse direito.
- Então nossas feridas hão de nos separar.
- Já estamos separados.
- Eu quis te dar o mundo para que não ficasse sem chão.
- Fiquei sem chão quando o perdi de meu mundo.
- Só me perdeu porque não quis me ganhar.
- Eu só quero dizer que te amo...
- Então tu não tens o que dizer.

Obs: Texto antigo, muito embora venha a calhar nestes instantes.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Substitui a ação

Me sinto um campeão, posto que tenho de matar um leão por dia. Eu poderia escolher o oposto, e deixar que os leões me matassem. Mas isto é uma questão de escolha.
Com o tempo a gente percebe que a vida, mais que um jogo de escolhas, é também um gigantesco ciclo de substituições.
Nascemos, e substituimos o nosso habitat intrauterino por uma Terra miscigenada, conturbada e pandemônica, muito capaz, porém, de nos trazer a felicidade, desde que a busquemos da maneira correta, no momento oportuno.
Nossos dentes de leite são substituidos. Nossos pêlos são tão descartáveis quanto vitalícios. A gente troca de roupa todo dia - ou ao menos a maioria de nós - e até trocamos algum curso, que está próximo do encerramento, simplesmente porque sacamos que esta não era a escolha predominante afinal.
Substituimos ingredientes em algumas receitas, e certas vezes, este torna-se o fator culminante dum excelente resultado final. Zapeamos a TV, e descobrimos sintonias ilegais em nossos rádios, que previamente serão substituidas por alguma programação adentro da legalidade.
Aprendemos que, por mais que pessoas sejam insubstituíveis, nós conseguimos nutrir certas ausências, com determinadas presenças, sem termos que necessariamente substituir a personagem em questão. Substituimos, e algumas vezes somos substituidos. Invertemos alguns valores, e enxergamos maneiras diferentes de se ver um problema, para que não haja unicamente o negativismo em nosso pensar. Trocamos o hábito da violência precoce e precipitada, por um tempo só nosso, reflitindo e aprendendo a descansar dentro de nosso mundo individual, a que chamamos de mente, onde o pensar substitui a ação. Substituição.
Substituimos gostos, substituimos visuais, e substituimos amores, e desamores. A sociedade tornou-se tão secular que, agimos feito robôs pré-programados. Amamos, e se acaso este amor torna-se tristeza, saudade ou mesmo o ódio,instintivamente buscamos alguma outra paixão para que este vazio seja preenchido. E mesmo o avesso desta situação implica neste sistema aprisionante da troca equivalente. Onde há fumaça, há fogo. Onde há amor,há também o ódio. Eu particularmente substitui certos ódios ao longo da minha vida, conforme ia descobrindo que certas na coisa na vida devem ser vividas, e algumas pessoas tem de ser ouvidas.
Mudei algumas opiniões. Mudei o visual. Mudei a voz. Mudei o gosto musical. Mudei amores. Mudei desamores. Algumas poucas vezes acabei sendo trocado, entretanto estas vezes me fizeram o que sou hoje, preparando-me para uma vida onde as mudanças acontecem muito depressa.
Penso - e concluo este devaneio - da seguinte maneira: A vida inexoravelmente nos remete à um jogo de escolhas, escolhas estas que implicam substituições, e mesmo que algumas das mudanças sejam injustas, muitas delas são necessárias para que de fato possamos nos sentir vivos, jogando e respeitando as regras que a vida nos submete.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Confissão

Antes que a noite emerja, e que torne-se tardia estas ações,
devo confessar-te, ainda que em risco ponha minha integridade,
sou todo seu, até que se atravanquem as minhas paixões,
e então sobre somente a volúpia, o espelho e a minha idade.

E saiba você, que dar-te-ei o meu amor de todo o bom grado,
que por todas que sejam as palavras, salvo as falácias,
eu entoe com ar bravio e impetuoso, e não amedrontado,
o amor que espero com o relógio, e sinto em todos dias.

Sou adicto por você, e sinceramente só sei te querer,
ajo como se nada soubesse, mas como quem muito lhe quisesse,
e tudo porque, não consigo, não com plavras expressar o tal arder,
que queima em meu peito, mas queima sem doer.

domingo, 4 de julho de 2010

Doença

Estou doente. Tenho solidão.
Dia desses pensei estar curado, e hoje posso lhes dizer que, nunca estive mais errado em toda minha vida.
O médico me receitou doses de afeto, mas não importou onde procurasse, não encontrei em lugar algum. Disseram-me que hoje em dia este é um dos itens mais raros do mundo.
Lembro-me que esta semana acabei tropeçando na mesa de centro da sala, e juntamente com meu rosto, minha carteira foi ao chão. Dentro da carteira havia uma foto sua, e aí que me dei conta. O afeto que preciso vem de você.
O médico estava certo, e na verdade sempre soube que você é meu remédio para todos estes malefícios que a solidão pode causar. Entenda, não creio que tu sejas uma droga, e muito embora seja meu grande vício, me causando dependencia de doses diárias de você, tu é meu único remédio.
Por favor, me salve. Por favor, me resgate desse abismo em que me afundei. Por favor, me torne seu homem. Por favor, me ame. Por favor, me cure.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Queridos pensadores

O mundo é feito de grandes idéias, e grandes pensadores contribuiram, e contribuem para isso.
Pensadores vêem o mundo de outra forma. Pensadores possuem mais tato. Pensadores tem um grande potencial. Pensadores mais do pensam, vivem.
Pensadores sabem que, mesmo a teoria sendo a prática dos vitoriosos, a prática sempre nos surpreende com resultados muito mais impactantes.
Muitas são as vezes que a vida nos desagrada. Alguns acreditam que esta é a hora de nos entregarmos ao murmúrio, entretanto, pensadores tem de pensar mais com a cabeça do que com o coração, e logo chegam a conclusão de que somos infelizes porque não percebemos nossas pequenas riquezas, e almejarmos algo que não temos e talvez nunca teremos, apenas irá nos trazer tristeza, se deixarmos que isto nos traga. Pensadores acreditam que é muito mais fácil chorar com as tristezas de outros, do que sorrir com a alegria alheia. Pensadores possuem certo status quo. Pensadores são muito cobrados. Alguns crêem que pensadores não sofrem, que apenas dizem coisas belas. A beleza é relativa, e somos capazes de achar beleza em meio à tanta tristeza. Frases tristes são ditas as mais belas, porém isto deu-se ao pensamento da maioria, que viu no sofrimento dos outros a beleza de se vivenciar uma situação sem ter que ferir-se diretamente.
Pensadores convertem a tristeza em beleza. Convertem alegria e tantos outros sentimentos em pílulas de incentivo ou realidade necessária para muitos. Pensadores sentem mais. Pensadores vivem. Pensadores são de carne e osso, e mesmo assim muito cobrados. Quando queremos coagir alguma ação, fazemos deles nossas palavras. Nos escondemos atrás de pensadores. Nós somos todos errantes, e pensadores.
Pensadores escrevem, e amam, e também odeiam e são odiados. Sobretudo, vos digo, pensadores ainda assim são mortais, mesmo que seus pensamentos perpetuam-se.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Sina

Agora estou confuso, não sei se no momento me recordo de fatos passados, ou se presencio uma nova cena idêntica a anterior.
Primeiro a ausência, e então a tristeza vem para jantar. O tempo tarda a passar, ainda assim, esvai-se. As estações mudam, os cheiros mudam, e a gente acaba mudando. As horas e os dias começam a parecer os mesmos dias de antes, entretanto sabemos que não são, muito embora no amanhã hão de tornarem-se passado. São tantas as folhas secas que vemos em nossa frente, e tantos os abismos que temos de sobrepujar, que se torna quase inevitável encontrar alguém que lhe transmita uma paz melhor do que a sua atual, que lhe entregue uma felicidade mais sorridente do que a de um arlequim apaixonado.
E é exatamente este o ponto crucial deste cotidiano infortúnio. Conheço pessoas, e em cada uma delas que conheço me faço a mesma pergunta...na verdade quase me faço uma afirmação: É ela!?
Não sabemos e nem nunca iremos saber quem exatamente mudará nosso viver, quem será aquele que te abraçará quando o inferno congelar, e que te secará as lágrimas quando seu melhor amigo partir para um horizonte mais denso e espirituoso que este. Esta é minha tormenta, e esta é minha motivação.
Eu vejo pessoas partirem, e chegarem a cada instante, feito o Sol que se põe para que a Lua se ergua. Me sinto uma rodoviária, porém sofro a desdita sensação de carregar em mim cada semblante daquele que chega e que parte. Eu me lembro. Eu sinto, e muito.
Não entendo como se tornou rotina, como se tornou um eterno déjavu. Eu presencio ausência, então sou encoberto pela tristeza, os dias partem, outros dias chegam, e um alguém especial acaba chegando. Me sinto feliz, e me pergunto, e me afirmo, que esta será a pessoa que mudará a minha vida. Eu me engano, e sou deixado mais uma vez, abrem a mão de mim antes mesmo de terem-me. Acabo presenciando a ausência, e então sou encoberto pela tristeza. Dias chegam, dias vão, bem como as pessoas que passam por essa rodoviária de carne e ossos, e coração.
É estranho pensar assim, mas talvez no fim, tudo isto seja a tal sina de quem tanto falam, a qual eu sempre abri mão de acreditar, entretanto nunca deixei de vivê-la.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Homologação

Caminhava aleatoriamente com o andar trôpego, resultante dum porre de paixão. Não escondia o que sentia em seu coração, mesmo porque tudo que sentia podia ser visto fluindo de sua epiderme. Não percebia o próprio desatento em conversas alheias, pois atentava-se a cada momento às mensagens que o coração lhe mandava.
Nunca acreditou que pudesse ser atingido por balas perdidas, ainda mais balas de amor fumegantes. O cupido o acertou e ele nem pôde pedir clemência.
Agora pertencia à estatística. Enquadrava-se ao grupo dos adoentados por amor. E tudo começou num dia qualquer, numa hora qualquer, numa rua qualquer dum quadrante supérfluo. Caminhava despreocupado pela trilhas acinzentadas da selva de concreto, quando ela lhe aconteceu. Não houve motivos quaisquer para que naquele momento sentisse vontade de virar o pescoço, muito embora no instante em que deslocara o pescoço, o cupido sabiamente - e traquinadamente - o acertou em cheio pelas costas. A garota lhe fisgara. Não importou-se de seguí-la com o olhar, nem de seguí-la com seus pés, até que a perdeu de vista, mas não perdeu o sentimento que lhe era privado até então. Imaginava uma porção de coisas, tais como quando a encontraria novamente se caminhasse por aquele mesmo local, no mesmo horário e se fosse preciso até mesmo com as mesmas roupas. Imaginava tão a fundo quanto o seu coração lhe desse corda. Chegou a escolher o nome dos dois filhos que teria junto à moça que não o conhecia. Em sua cabeça, ela o conheceria assim que ele perguntasse o seu nome. Este era o plano, encontrar a sua amada, questionar seu nome, e pedi-la em casamento. Quando se ama tudo é tão irreal, tanto que nos tornamos idiotas a ponto de planejar insanidades e sofrer desnecessariamente.
Já faz algum tempo que não a vê, todavia tem plena certeza de que este dia chegará, e ainda que seja instável a sua situação, tem orgulho em dizer que nunca se sentiu tão bem quanto agora que ama.

domingo, 20 de junho de 2010

Idéias, dúvidas e feixes de luz

São exatamente nestas tardes de quarto escuro e fechado, em meio a poucos feixes de luz solar vespertina, que acabo lembrando que um dia você me teve, muito embora eu nunca a tive.
Bem, já faz algum tempo que não nos falamos, e me pergunto se isso te incomoda tanto quanto este silêncio me ensurdece lenta, aguda e agoniantemente.
Se tivesse uma segunda chance, não a aceitaria. Sei muito bem quando parar. Na verdade, aprendi a parar no momento certo quando deixamos de trocar palavras.
É estarrecedora a maneira como meus amigos me deixam à deriva da vida. Não percebem, simplesmente não percebem, que aquele sorriso que viam inexoravelmente já não existe mais. Não o verdadeiro. Precisei de reforço, precisei de apoio, não tinha um tostão furado e pus minha alma à venda. Não houve nenhum lance para minha alma, não houve arremate para aquele espírito já maltrapilho e judiado. Acabei vendendo meu sorriso. Uma garota acabou me convencendo que eu não precisaria dele num mundo onde as prioridades são os egoísmos. Os argumentos que usava eram concisos, e a maneira como agiu fora sorrateira, mas detalhes à parte, já não sou dono de meu sorriso. Forjei um sorriso falso e tosco, para que não fizessem perguntas sobre o ocorrido. Odeio quando as criticas não são construtivas.
Acabou. Mesmo o sorriso plagiado, falso e tosco esvaiu-se. Oh sim, em meio a tantas idéias alucinógenas e trovas aortadas, acabei me lembrando daquele menino que timidamente encostava suas mãos nas mãos da paixão não correspondida. No começo éramos felizes, ao menos você fingia bem. Me pergunto se quando os meus braços encaixavam seu corpo frágil e quente, se aquele instante em que minha respiração servia de sopro de vida para ti, ou o contrário disso, se quando meus lábios não se importavam de se perderem ao te encontrar, e quando eu tentava lhe dizer poemas sem abrir minha boca enquanto mergulhava no mar de sua perfeição, me pergunto se nesses momentos, o seu coração chegou a considerar a louca e inconcebível idéia de me amar.
Os feixes de luz encerram-se por completo, e torno à minha realidade. São só idéias, são só sentimentos, e não preciso de nada disso num mundo onde as prioridades são egoísmos, afinal, se não fosse dessa maneira, não teria vendido meu sorriso.

Eu

Houve o tempo em que eu não sabia amarrar meus cadarços. Houve o tempo em que escovar os meus dentes era uma tarefa que minha mãe quem fazia. Houve o tempo em que as calças eram realmente largas. Houve o tempo em que Atari era um videogame de última geração. Houve o tempo que eu era gordinho suficiente para ser chamado de balofo. Houve o tempo em que minhas bochechas eram tão rosadas que até parecia que eu passava blush. Houve o tempo que eu era o mais branquelo da turma. Houve o tempo que eu era o mais inteligente da minha escola. Houve o tempo que eu usava topete. Houve o tempo que meu círculo de amizades era imenso. Houve noites que todos os meus vinte amigos se reuniam simplesmente para nada fazer além de apenas trocar idéias e sorrir como se não houvesse razões para sermos tristes. Houve o tempo que minhas piadas eram as melhores. Houve o tempo que minha voz era a mais gostosa de ser ouvida. Houve o tempo que meu visual era o mais ridículo da galera. Houve o tempo que faziam questão de mim. Houve o tempo que eu era feliz sem saber a verdade. Houve o tempo que raspei a cabeça. Houve o tempo que amei. Houve o tempo que esperei outro amor. Houve o tempo que em que eu já não me sentia tão sozinho assim. Houve amizade. Houve saudade. Houve amor. Houve alegria. Houve tristeza. Sempre houve, houve, houve, muito embora já não há.
Não fazem mais questão de mim. Não se lembram de mim. Não estão nem aí pro meu Q.I. Não se importam se agora consigo me vestir bem. Não deixam de festejar porque não estou lá. Não importa amarrar cadarços num mundo onde se existe velcro. Simplesmente nada disso que houve, haverá novamente. Esvaiu-se. Fora substituido. E já não há mais nada além de mim. E não quero que haja pena, críticas ou ajuda, posto que escrevo o que quero, quando quero e pelo motivo que quiser, e nunca precisei pedir que sentissem pena de mim ou que dissessem o que pensam, e pra mim indifere conselhos que me darão. Não quero pena. Não quero julgamento. Não quero que haja somente eu, mas é tudo que sobrou.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Você

O ser humano é um cádaver adiado. Um vivente odiado. Um amante solitário.
Estas recordações que me vem à tona, são tão inoportunas quanto antigas, e tão vivas quanto estou. Não sei ao certo em que instante me perdi, entretanto sei que me perdi ao te encontrar. Só não sei quem é você. Não sei quem sou eu.
Pensando bem, um dia eu soube quem fomos nós. Um dia soube quem foi você, e de fato eu era você dentro de mim. O tempo passa, o tempo passou, e hoje já não sou mais quem eu costumava ser, e isto dá-se ao fato de tu também ultrapassar as qualidades que outrora lhe compunha.
Acho que essas ruas desertas acabam falando muito mais de mim, muito mais comigo, e com toda essa garoa no rosto já não sei mais te dizer se choro, ou se quero chorar. Tu mudou. Eu mudei. As ruas continuam as mesmas. Me lembro que passamos por essas ruas, e enquanto caminho nestas ruas, eu me lembro de tudo e volto a ser o mesmo, ainda que por alguns instantes. Isto é bom, pois somente assim sei que hoje estou muito melhor, com todo este novo eu, e tendo a certeza de que antiga e atualmente você já não me merece, nem me completa e tampouco me satisfaz.
Credito ao tempo toda essa melhoria, toda essa perspectiva de vida, e toda essa tremedeira em minha perna cada vez que lembro de nossos momentos. Te odeio, e te amo. Te quero, e já nem mais preciso de ti. Estranho mesmo são essas indecisões que me socam o peito quando tu me invade a cabeça, todavia, naquelas ruas, quando volto a ser o meu velho eu, acabo percebendo que não há o que se decidir, mas há muito para se viver.
Um dia hei de sucumbir a falência de minha carne, e saiba tu que morrerei te amando, te odiando, e me perguntando em quem você acabou se tornando sem mim, já que eu sem você nada fui, e só o tempo pode me renascer e me fortalecer, como um feto protegido, como fênix vistosa.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

casa nova

*24423100
*referencia: 17.247
*cresci: J 4383

terça-feira, 1 de junho de 2010

Já faz algum tempo

Mal termino de raspar a barba, e de súbito me vem a dúvida de quando será o próximo momento em que terei de encarar-me uma vez mais de frente ao espelho a fim de retirar novamente estes fios de tempo que incessantemente hão de crescer em minha face.
Não me agrada ter de encarar o espelho com esta gilete em mãos. Não gosto de ter de me encarar. Não gosto de ter de encarar que o tempo passa.
O tempo está na barba que cresce, no creme de barbear que se acaba, ou na camiseta que se repete. Pensando bem, mesmo que não se raspe a barba o tempo há de passar, e raspamos a barba únicamente para enganarmos a nós mesmo sobre a decorrência cronológica dos acontecimentos ou das lembranças que temos. Raspamos a barba para que diante ao espelho simulemos certa reversão no tempo.
De barba feita, apanho algum fruto no balcão de minha cozinha, e à medida que abocanho a polpa da fruta, começo a imaginar o trajeto deste fruto da terra, desde seu surgimento até seu final em minha guela abaixo. Certamente durante algum outono, folhas cairam duma árvore, e estas folhas foram substituidas por novas folhas numa primavera qualquer, surge então algum fruto, que enquanto é devorado em alguma boca qualquer, sementes de seu interior são cuspidos ou arremessados à sorte, sementes estas que viriam a se tornar novas árvores, que desprenderiam novas folhas, e que trariam novos frutos com novas sementes, e a polpa que devoro neste momento é certamente de um deste frutos que fora colhido desta nova árvore, e reservo as sementes para que este ciclo se repita quantas vezes for necessário. O tempo tem mesmo dessas coisas, fazendo com que o tempo mude, entretanto não necessariamente algumas coisas mudem - somente algumas coisas.
Outonos sempre serão outonos. Verões sempre serão verões. O inverno sempre vai lhe trazer aquela vontade de estar abraçado, esquentando quem se quer tão perto que a respiração seja única. O tempo passa, as estações continuam as mesmas. A estação, ainda é a mesma. Já não adianta mais esperar sua voz no outro lado da linha, o tempo não me permite mais este desejo. Não importa quanto tempo levar me encarando enquanto me barbeio, eu sei que você não aparecerá, se não dentro dos meus olhos. E mesmo que ainda sinta seu cheiro ao usar aquela camiseta já desbotada, sei que já passou tempo demais para ter a esperança de que você estava somente confusa.
Não sei se foram os joelhos tremendo, as mãos suando, ou as frases sem sentido, mas é que sou incapaz de me esquecer daquele tempo em que era tão mais fácil amar. Não haviam medos, não haviam traumas, em compensação havia você. O tempo passou mesmo, e acabei repetindo esta camiseta tantas vezes que mal me lembro se tal fato se deve ao esforço de manter sua recordação tão viva quanto está longe de mim, ou se por pura necessidade.
Hoje eu me decidi, e vou deixar a barba crescer, ao menos assim percebo o tempo passar sem ter de me enganar. Sejam as estações do ano, ou estações de metrô, na qual tu entrou num ônibus, e nunca mais a vi. Sempre que passo por lá espero teu regresso. Sei que bem como o ciclo dos frutos, você não mudará...sua lembrança não mudará, e também nem a esquecerei, todavia uma coisa eu digo: esta camiseta eu jogarei fora, e sei que assim sua lembrança não morrerá, mesmo que para ti eu tenha morrido, e para mim pouco importa se tu vive, pois o que me entristece é ter de ver o tempo passar e eu levar assim calado, preso ao tempo. O que me traz boas estimas são estas nossas recordações, é esta saudade que sinto de você, porém não necessariamente seja você quem irá me fazer feliz. O tempo passou e acabei mudando meu pensar.
Deixe assim. Deixe minha barba crescer, e a camiseta ser trocada. Cedo ou tarde o tempo acaba mudando a rota das coisas, e desta vez eu só quero poder acompanhar o mais fielmente possível o momento em que colocarei tudo a perder.

domingo, 30 de maio de 2010

Instante

É estranho acreditar que, demoramos tanto para criarmos algo, e é necessário somente um momento para que tudo que conquistamos, ou criamos comece a ruir-se. É necessário somente um momento, somente uma decisão, somente uma frase dita ou não dita, e em instantes tudo esvai-se.
São nesses instantes que percebemos que falhamos. Percebemos que não basta conquistarmos o que queremos, temos mesmo é de mantermos tal conquista para nós. A falha é fruto da ação incerta para tal momento. A falha é capaz de gerar a desistência, e a desistência é a morte da esperança.
Eternamente errantes. Eternamente aprendizes. Isto é o que exatamente somos. Não temo exatamente a falha, meu pavor é justamente a desistência. Minha vontade é ter alguém para amaciar a minha queda, para limpar as minhas feridas quando eu errar e sofrer as devidas consequências, um alguém para abraçar-me quando já se faz frio e o Sol insistente há de repousar alguns instantes mais.
É estranho acreditar que, demoro tanto para recuperar algo que perdi, que quando acabo reavendo-o, já não me tem tamanha importância, e percebo isto num instante, e minha cabeça se enche de devaneios a respeito se terá sido certo ou não ter perseguido tanto algo que não queria verdadeiramente. De fato também erro, e um instante é necessário para que perca tudo o que tenho, ou mesmo me perca dentro de mim mesmo.
O fato maior é que eu nunca disse que fosse perfeito, tampouco quis mostrar isto, muito pelo contrário, retratava a minha maneira de ser crendo somente que a perfeição encontra-se justamente na imperfeição, imperfeição esta que coagia meus pensamentos.
Levei tempos para aprender que já não importa falhar, o que importa mesmo é não desistir, e a medida do possível vivo esta doutrina instante a instante.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Gabi

De minha janela eu vejo Gabriela, mas não posso tocá-la. Não devo tocá-la, se é que quero que mantenha a imagem imaculada da grande pequena que desbrava mundos a fim de encontrar-se.
Da janela onde vejo Gabriela, consigo apenas lhe dizer algumas poucas bobagens, porém, penso eu, que são dizeres mais do que suficientes para que âmbos possamos compreender que o mundo é sim conexo, e não há como fugirmos um do outro.
Esta janela por onde vejo Gabriela nem mesmo é material, algo plenamente compreensível, posto que as begnitudes que flui de Gabriela também não são sólidas feito pedra, muito embora sejam tão concretas quanto crer que Deus exista.
Não sei se são os devaneios, ou a falta deles, é que realmente faz de nossas conversas tão prazerosas quanto bombas de chocolate, todavia, nem sempre é possível extasiar-me em seus dizeres, nem sempre tem bomba de chocolate na padaria da alegria.
Não consigo diferenciar Gabriela duma pétala de rosa. Sua figura remete-me à fragilidade mais tênue e forte que já vi. Pensando bem, Gabriela é a própria rosa. Mas não uma rosa com espinhos, e sim uma rosa espinhada. Pena. Peno por Gabriela. Rosas não devem ser pisoteadas. Gabriela não deve ter espinhos, e nem ser espinhada.
Ó rosa, não deve perturbar tua beleza com estes falsos espinhos, confie em mim e simplesmente mantenha-se firme e forte, feito a figura que sempre me mostrou, em toda esta vistosidade, beleza e coragem.
Ora Gabriela me fala feito rosa, ora fala-me feito gangorra com todos os seus altos e baixos. Ora Gabriela fala-me feito uma guerreira desbravadora, e ora diz feito Gabriela, tão meiga e frágil quanto.
De minha janela vejo Gabriela, e estas trovas nem mesmo devam ser poesias, pois tu Gabriela, já é!

Ludmila

Pensei ser capaz de ir contra esta minha natureza, entretanto vejo que, crer que fosse possível esquecer este sentimento, não passou de mais um de meus erros. É quase que instantâneo, digo, logo pela manhã encontro-me estirado em minha cama, surpreendido pelo Sol aporrinhando minha janela, visitando-me quarto adentro e sussurando seu nome quase que inaudívelmente, muito embora seja nítida a necessidade que tem de me lembrar desse nome que na verdade não sou capaz de esquecer.

O destino tem muito dessas coisas. Ele nos traz à memória fatos que nem sequer tentamos lembrar, e acabamos lembrando até coisas erradas em momentos errados, porém ao destino, estes momentos e estas recordações são tão exatas quanto os bocejos que soltamos em meio ao tédio da amnésia. Desnecessário mesmo é tentar evitar que tu me venha à memória - tão desnecessário quanto aprender a amarrar cadarços enquanto criança, para que quando adultos simplesmente escondemos os cadarços abaixo da meia.

Vencido pelo Sol, deixo então que o destino retome seu curso e me dê coordenadas para que me encontre em meio à esses dias que me perco. E acabo me encontrando mais ainda quando te encontro no meu caminho. Muitas das vezes este encontro não é físico, todavia tão real quanto. Basta apenas fechar os meus olhos, ou nem sequer isso, necessário mesmo é simplesmente recordar dos meus momentos mais felizes e tu está lá inerente.

Te vejo na minha xícara de café. Por ti tomo jarras, jarras de café, e não nego a ansiedade que o café me traz, digo, esta ansiedade de te ver. Nem sempre é possível te encontrar fisicamente, e admito que certas vezes eu acabo me privando desse momento tão sólido que é te abraçar, pelo fato de me julgar indigno do teu sentimento. É, não dá pra negar, você está mesmo em cada gota de café, e em todo fundo de minhas xícaras, e acho que por isso que acabo tomando feito louco toda essa cafeína, a fim de absorver por completo um pouco mais de você.

Fico confuso à cada despedida. O temor me invade à cada despedida. Me sinto menos eu à cada despedida. Acabo querendo sempre mais um pouco de você à cada despedida.

Escrever para mim funciona como uma terapia, muito embora isto nem chegue perto do bem que é sorrir por ti, que és de fato meu melhor remédio, ou seria você o meu vício mais letal? Creio por fim que seja você a minha cafeína viciante, minha dose de perfeita de calmaria em meio a tempestade. Escrevendo assim, até parece que sou gente grande, mas tu sabe - e como sabes - que não passo de um garotinho perdido em meio a uma grande selva de concreto, e é você a minha eterna guia, minha eterna companheira. Não sei se o que sinto no momento é saudade, ou arrependimento, de não lhe dizer todos aqueles ‘eu te amo’ que reprimo, por achar que seria incoveniente ou incompreensível à aqueles que pensam que relacionamentos entre homem e mulher existe somente na cama - ou em quase nela.

A verdade é uma só. Quando por fim entrei de férias, pensei ser capaz de tirar também férias do mundo. E de fato consegui, recriei meu mundo em todos esses minutos ociosos, consegui mesmo o mais dificultoso, tirar férias do próprio Eliézer. Admito que, falhei num quesito. Falhei em pensar que também seria possível tirar férias de você, mas a medida que tento fugir de ti, a saudade aumenta cada vez mais, e é em meio à toda essa algazarra de meu guardaroupa que acabo te encontrando sempre no mesmo lugar, aqui dentro de meu coração, e a cada vez que te encontro tu sempre diz num tom de companheirismo: ‘Pode tirar férias do Eliézer, mas o Zé você não consegue folgar!’.

Acho que entendo o que você quer me dizer. Não adianta, mesmo que queira, não posso tirar férias deste meu sentimento, posto que este meu sentimento, já se tornou eu por completo. Compreendo que não consigo tirar férias de você, e esta compreensão que traz saudade, que me traz arrependimento, todavia não me traz o que mais quero, a compreensão não me traz você.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Fedor

-Doutor, podemos morrer com fedor?
-Quando morremos nos deterioramos. O malcheiro é consequência disto.
-Não entendeu. Quero saber se podemos morrer ao inspirar muito fedor.
-Ora, que pergunta curiosa, mas creio que isto não seja possível.
-E por que não?
-Nunca ouvi falar de alguém que tenha morrido por excesso de malcheiro.
-Também nunca ouvi falar de alguém que tenha morrido ao ser atingido por um vinil dos beatles que se desprendera dum bagageiro de avião, enquanto trajava uma fantasia de Batman, mas a física diz que tal morte pode acontecer.
-Não tenho certeza se a química ou biologia explica se o fedor em excesso seja mortífero.
-A fumaça doutor.
-Que tem ela?
-Em excesso pode matar.
-Devido a densidade dos gases, que nos asfixiam.
-Os gases em excesso ocasionam mortes certo?
-Correto.
-A fumaça é fedida não é?
-Correto.
-A fumaça contém gases não é?
-Correto...Aonde quer chegar com isso?
-A fumaça é fedida, os gases são fedidos e nos matam. Não será o fedor o assassino?
-A densidade é a assassina.
-Por que as coisas fedem?
-Porque deterioram-se.
-E por que deterioram-se?
-Ora, tudo nesta vida tem um tempo útil. Quando esse tempo acaba não há muito o que se fazer.
-As coisas deterioram-se porque não as zelamos, nós as tratamos descartavelmente.
-Não há o que se fazer, as coisas estragam!
-Mas em meio à essa desventura nós podemos conter o malcheiro. Escute doutor, as coisas fedem porque nós permitimos federem.
-E por que essa cisma com fedor?
-Gostaria de ter certeza se pode ser mortal, para que previna-me da maneira que se deve.
-Prevenir-se?
-Tu sabe que hemorragias, tiros ou queimaduras podem nos matar, e assim previne-se contra tais acontecimentos não é memso?
-De fato, isto é bem verdade.
-Só quero ter certeza que o fedor não me matará, feito à pressão do fundo do mar, caso eu adentre algum ambiente fedorento.
-E por que entraria num local com fedor?
-Às vezes é necessário doutor. Veja bem, dia desses fui à casa dum amigo. ele dizia estar com um problema no ralo, e todo o tempo que fiquei ali achei que fosse morrer com todo aquele cheiro de merda. E de uma coisa tenho certeza, se o fedor não nos mata, ao menos nos deixa insanos, ainda que temporariamente. Com todo aquele cheiro, meu amigo percebeu meu desconforto, e a todo tempo dizia-me explicações sobre o ralo. Eu estava fora de mim, e tudo que via era sua boca se mexer. E se mexer. Até que explodi!
-O que quer dizer com 'explodir'?
-O fedor realmente nos torna instáveis doutor. Arrependo-me do que disse, e a maneira como disse. Mas o fato é que ao ver a boca dele se mexendo, dando-me explicações esfarrapadas, não me dei conta e o interrompi perguntando: "De onde vem o cheiro?" E ele respondeu-me "do ralo ali, eu to com um probleminha com..." Eu mal o deixei terminar, e o questionei: "E o que tem no ralo?" E claro que com certa vergonha não me respondeu. Tornei a dizer:"O ralo está entupido de merda, e essa merda vem de você!". Não preciso dizer que isto foi constrangedor. Porém, pensando desta forma, as coisas fedem porque permitimos, e acho que permitimos porque no fundo a gente sabe que somos nós é que provocamos o fedor.
-Estou fedido meu caro?
-As pessoas fedem doutor. Não é o fedor que empregna nas pessoas, é o perfume que se esvai. Tomamos banho para remediarmos nosso malcheiro. Nos perfumamos para nos enganarmos.
-Nos perfumamos porque odiamos o fedor.
-Nós odiamos porque o fedor nos incomoda. E de certo doutor, tudo que nos incomoda, ao menos as que interferem em nosso organismo, em excesso causam morte.
-Tudo que nos incomoda e interfere no organismo? Mesmo?
-Os choques, por exemplo. Queimaduras, hemorragias, perfurações ou paradas respiratórias, em excesso são mortais. Por que não o fedor?! Ele certamente desvia nossa mente. Pessoas nos incomodam, pessoas fedem e pessoas matam. A morte fede, fede à cinzas.
-Pessoas desequilibradas matam.
-Mães matam agressores de crianças por autodefesa. que tal estas doutor? São desequilibradas?
-Não, estas não são. Mas certas, elas não estão.
E quem há de julgar isso senão Deus? Muito embora este não seja nosso foco, pessoam matam. Pessoas que fedem e fazem fedor ao matar e morrer.
-Me pergunto se outros discutiriam tanto este assunto.
-Temo por estes desavisados, que trabalham em indústrias químicas, manipuladores duma matéria que fede. Se letal, essas pessoas morrem um pouco a cada dia com tal fedor.
-Em que trabalha?
-Veja o senhor quanta irônia. Eu vendo máscaras descartáveis!
-Daí esta obssessão por fedor?
-Não doutor, simplesmente quero saber porque não morremos por fedor, se ele nos incomoda tanto.
-Talvez sejamos capazes de morrer com fedor.
-Você acha que podemos morrer com fedor?
-Dia desses não, mas hoje acho muito provável.

Mercado

Enquanto decidia-se entre comprar uma lata de sardinhas ou um vidro de palmito, se distraia ao ver os não-raros casais que andavam pra lá e pra cá ao longo do hipermercado. andava tão distraído que, não fosse o baque contra o peito, mal teria percebido que veio a colidir com outro carrinho que estava à sua frente. Preparou prontamente uma desculpa para entoar, muito embora não fosse preciso, já que descobriu logo em seguida que a vítima de sua batida era seu melhor amigo que a tempos não o via.
- Ora, ora, além de não mandar notícias sequer, me atropela desta maneira? - disse o amigo benhumoradamente.
- Carlos?! Nossa, a tempos que não nos vemos hein?! Me desculpe ter batido em teu carrinho - desculpou-se de imediato o mau motorista.
- Ora, não há com o que se preocupar. Anda cá, dê-me um abraço Felipão.
E foi neste exato momento em que ambos puderam observar seus carrinhos de compra. Sem alguma demora Felipe comenta:
- Vejo que tem estocado muita comida, meu caro amigo.
- Estocado? Isto aqui não passa de um mês!
- Um único mês? Mas o carrinho está lotado!
E como um gênio surge para realizar nossos desejos ao esfregarmos a lâmpada mágica, de trás de uma das estantes surge uma moçoila loira, alva, de olhos claros e poucas sardas ao rosto, e diz num tom de companheirismo:
- Que tal esta torta amor?
- Ó, boa idéia, Júlia vai adorar! - responde Carlos à tal moça, vira-se para Felipe e diz - esta é Juliana, minha esposa, e Júlia é a nossa filhota que está com a babá neste momento. E Juliana, este é Felipe, aquele amigo que te falei a respeito.
- Encantado Juliana!
- Igualmente Felipe!
Juliana então retoma sua atenção às suas compras, e mais que apressadamente Felipe ressalta à Carlos:
- Vejo que formou uma bela família!
- Vejo que ainda está solteiro.
- E como tem tanta certeza disto?
- Seu carrinho está quase vazio, porém só comprou enlatados ou congelados. Típicos alimentos de solteiros.
- Não é verdade!
- É sim!
- Talvez...
- Certeza! Felipão, toma um jeito, ou ficará para titio. Agora tenho de ir, marcamos uma cervejinha futuramente, certo?!
- Tudo bem...
- Tudo bem sairmos, ou tu tomar algum rumo?
- Eu ao menos sei se levarei sardinha ou palmito.
- Te ligo então. Até mais!
- Até bro, até!
Felipe então decidiu-se pelo palmito. Nunca gostou de ver casais, ainda mais casais felizes, e um pouco menos se forem casais de amigos, já que isto o fazia lembrar da instabilidade amorosa, dos abandonos, dos repugnos e da solidão. Lhe apertava o peito ver casais, e ainda mais belos casais.
Nunca mais comprou comida enlatada. Decidiu cozinhar por si só, para tentar enganar a solterice. Agora quem vê seu carrinho de compras não diz prontamente que Felipe é um solteiro, às vezes é até confundido com um marido prestativo que vai sozinho às compras. Dia desses encontrou com outro amigo que não via a tempos, e pode até ludibriá-lo fingindo ser casado. No fim das contas, já não precisa mais decidir entre levar palmito ou sardinha. Agora é quase casado.

Batatas

Fim de feira-livre. É possível enxergar ao chão dezenas de unidades de frutas ou legumes esparramados, abandonados e esquecidos, como se outrora não fossem fonte do sustento de feirantes anônimos, trabalhadores e necessitados.
Muitas são as crianças que anseiam saborear os frutos ao chão. Muitos são os adultos que chutam, pisoteiam e repudiam os alimentos naturais. Alguns poucos adultos da infância perdida e futuros desconhecidos, ficam a espreita degustando fantasiadamente os frutos abandonados, aguardando o momento em que aqueles muitos adultos de boa aparência, do estômago cheio e da mesa farta, deixem de brincar ou ferir os alimentos ali ao chão que tanta diferença fariam às pessoas desoladas, famintas e preconceituadas.
Final dum dia qualquer. Estima-se que no Brasil, toneladas de batata são descartadas diariamente, mesmo que no contraponto tenhamos um elevado índice de miséria nacional, ocasionando obviamente a desregularização básica sanitária e cidadã, posto que a renda subnutre o suficiente para extinção da fome e implantação de condições adequadas de higiene pessoal. O reflexo deste estado desigualitário é exata e precisamente a fome, a má aparência e doenças infecto contagiosas. O fedor pútrido duma batata ao ser descartada é tão intenso quanto o desejo por alimento dum faminto. O produto quando descartado não gera lucro. O produto quando doado acrescenta positividade ao espírito de quem doa, e felicidade ao recebedor. A dura realidade da oferta e da procura. Uma vez que o preço da batata diminuísse, a aquisição seria maior, o que geraria maiores lucros, desperdícios menores e aumento de espaço livre terrestre. Com maior aquisição de batatas, a fome seria menor, e se doado o excedente gerado, a fome poderia ser ainda menor, os fatores decompositores reduziriam as toxinas e gases nelas contidas, o que agravaria de forma menor a camada de ozônio. O faminto em posse da batata alimentaria-se, e com isso reforçaria suas energias e organodefesas, ocasionando a redução de doenças, o que significaria um número menor de bactérias e a mortalidade sentiriam tais mudanças, o que influenciaria a movimentação da econômia, e também a contribuição cidadã com a urbe, posto que as batatas ao chão num fim de feira-livre, seriam as batatas à panela de quem necessita numa hora qualquer, em qualquer que seja o dia. A culinária nacional acerca da batata aumentaria e tornaria-se corriqueira, o que traria mudanças à culinária nacional, englobando múltiplas culturas. Uma bata. Um cidadão. Descarte. Envolvimento. Investimento.
Detalhes vertentes e obstruídos por um cabresto fatídico fictício. Uma batata pode dizer tanto dum país, quanto um país pode dizer duma batata. Cabe a nós escolhermos o que enxergar.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Sim e não

Eu nunca quis tanto um abraço seu como eu quero agora, como eu quis ontem, como quero para amanhã, e como eu sempre quis. Controverso assim, acabo seguindo calado, e calado assim acabo dizendo muito mais de mim.
Pensando bem, acho que não existe o 'nunca'. O 'sempre' acaba prevalecendo. Eu sempre desejei essas bobeiras conjugais. Eu sempre queixo-me pelos fautosos afagos. Eu sempre retenho as palavras contigo, pois penso eu, que de nada elas adiantariam ao expressar meus sentimentos por ti. Acabei aprendendo que 'Eu te amo' tem ainda mais peso do que outrora imaginei, outrossim, percebo que existem certos 'eu te amo' subliminares em certos dizeres. 'Eu preciso de você'. Querer nem sempre é poder, e querer muito difere de precisar. Quero tanta coisa, mas acabo não adquirindo: Tudo bem! - Acabo pensando. Precisar é vital, precisar não é mero mimo. Percebo que existem não um, mas inúmeros 'eu te amo' dentro de uma única frase.
Meu coração sabe do que estou falando. Acabo acreditando que não é bem 'o querer', porém não pecarei em dizer que é de fato 'o necessitar' que sinto ultimamente. Cadê meus afagos e juras de amor? Cadê você aqui do meu lado?
Se de fato existe o 'nunca', este seria sinônimo de felicitações à mim recentes. Encerro, assinando como um triste mero passageiro terreno, muito embora não me cale a pergunta na cabeça: Será que sempre vai amar?

terça-feira, 18 de maio de 2010

O que muito tem a ver

Saudade é a extensão do amor. Agindo como uma vertente de paixão, diferenciando-se apenas na maneira de ser ver ou sentir as coisas, posto que a saudade é justamente um desconforto, uma eterna reclamação da ausência de quem se quer. Acho mesmo que o amor muito tem a ver com a saudade, já que não há amor sem boas recordações, e não existem boas recordações sem vontades de se fazer tudo de novo. E mesmo que por algumas horas, ou alguns momentos, recordar em tudo que vemos quem nós queremos, é justamente a maneira mais expressiva e sincera de se dizer eu te amo. Acho mesmo que amor, é sinônimo de saudade.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Au revour!

Certa vez perguntaram qual era para mim a palavra mais forte que conhecia, e lembro-me na ocasião que respondi quase hesitando que, minha palavra favorita era 'anseio', posto que remete a um desejo ainda maior que o desejo carnal e/ou espiritual.É desejo, uma espera quase abstrata e conceitual. Neste mesmo dia aprendi que uma das palavras mais poderosas é, 'venero', pois bem como anseiar, venerar é mais que idolatrar, é mais que amar, é submeter-se e viver para uma segunda pessoa e não para si.
Hoje compreendo - num dia frio como este - que são justa e exatamente estas palavras que sibilam ao meu coração quando meus ouvidos já não querem escutar nada além de sua voz. Anseio seus braços me apertarem com tanta força que, eu riria da maneira como tenta mostrar-me tamanho afeto que sentes por mim, e te venerar, assim dessa maneira, sem sequer indagar um único ruído, te falando com meu olhar o quanto eu esperei por alguém como você, como à mim.
Hoje compreendo que estas palavras são perfeitas transcrições de meus mais sinceros desejos, e sei que tu me seria muito útil hoje ao me acalmar desse meu estresse por simplesmente não te ter ao meu lado.
Cada dia mais cansado. Cada dia mais sem você. Cada dia mais sem mim. Cada dia mais cansado de não te ter junto à mim.
Só sei que amor igual ao meu se encontra aos montes, e talvez seja este o motivo de eu não ser exatamente o procurado, muito embora eu te procure em cada rodapé de minha casa, em cada poeira que se esconde de mim, e em cada carta de um amor saudoso que na verdade nunca existiu.
Às vezes me dá uma vontade de ir embora de vez...Às vezes me dá uma vontade de você...
Por hoje chega, não quero mais ter de desabafar e acabar chorando palavras à esta carta, contudo, anseio te dizer coisas que já não se podem ver, coisas que só o coração pode entender, afinal, fundamental é mesmo o amor e é impossível ser feliz sozinho.
Anseio seu venerar, e venero seu anseio. Bem queria eu que minha vida fosse uma novela global, posto que por fim tudo que se presumiu acontece, e é sempre este mesmo clichê de que tudo acaba bem e que mesmo os malefícios são convertidos em perdões. Perdoe-me se meu amor me transborda o peito e invade este blog, mas eu só queria dizer mais uma vez: Eu te amo!

terça-feira, 11 de maio de 2010

A ficha nunca cai

Dias desses me observei no espelho, e confesso que não notei diferença sequer, logo de imediato. Não me recordo do exato momento em que a ficha começara a cair pra mim, porém recordo com perfeição que caíra tão pesada quanto uma rocha, agredindo e alertando todo a minha consciência existencial. Acho que a ficha nunca cai. Rotineiramente olhamos nossos reflexos em espelhos, vidros, ou mesmo em acessórios reluzentes, e mal percemos que aquela ruga ou aquele pêlo que não estava ali no dia anterior, significa muito mais do que mera desatenção de nossas retinas. A nostalgia que sentimos ao olharmos álbuns de família é na verdade um verdadeiro apelo do nosso corpo para nossa consciência: o tempo nunca parou. Acho que a ficha nunca cai. Mesmo depois de um revival de emoções, de lembranças inacabadas e assuntos mal resolvidos, ignoramos aquele fio de cabelo branco e brincamos feito crianças com pessoas que gostamos, e determinadas vezes, até mesmo com quem não conhecemos, muito embora em algumas ocasiões façamos isto para provarmos para nós mesmos que nunca deixamos de ser aquela criança que encontra o melhor amigo, simplesmente ao saber que um coleguinha gosta tanto de refrigerante quanto ela. Vemos tantas pessoas chegarem, e partirem. Presenciamos até mesmo a nossa partida, e as idas e vindas da vida. Sobrinhos, netos, filhos, amigos,namoradas, ex-namoradas, batizados, funerais, casamentos e divórcios. Tanto passa, e fingimos que não percebemos o quanto passa, inconscientemente negamos que o fim não tarda, que aquele hit que ninguém mais escuta não é demodé, e que aquele espelho do guardaroupa de nossas mães é que encolheu e não nós quem crescemos. Acho que a ficha nunca cai, entretanto começara a cair pra mim quando notei que meu blog já ultrapassa a marca dos oitenta textos, que escrever pra mim agora tornou-se mais que vício, e que meus dedos já calejaram com as cordas do violão. Nunca saberemos quanto tempo ainda nos resta, e tentamos enganar esta sentença fingindo ser as crianças que nossos corpos não nos permitem mais ser. Nossa coluna se nega a acreditar que ainda não tomamos tento com o mal uso dela. A ficha nunca cai, e acho que eu sempre vou deixar o tempo me levar, sendo eu esta eterna criança que ri em horas erradas, que simplesmente corta a barba quando já grande e alva, e que escreve imperfeita e prolixamente as estranhas sensações cotidianas de se olhar o espelho. Ao menos quando a ficha me cair, eu ja terei me felicitado o suficiente com a minha passageira vida.

sábado, 1 de maio de 2010

Não

- Não quer?
- Não posso.
- Não tenta!
- Não me permitem.
- Não pede permissão.
- Não sou capacitado.
- É bom o bastante.
- Existem melhores!
- Ainda é bom o bastante!
- Não sei como.
- Não tenta descobrir.
- Não sou como os outros.
- Não há nada de errado nisso.
- Não existe reciprocidade.
- Não começou algo para ser recíproco.
- Será?
- Certeza!
- Não tenho coragem.
- Não tenha medo.
- Não sou deste status.
- Continua sendo bom o bastante.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Coisas que não se fazem com R$800,00

Se meu avô Sebastião ainda estivesse por aqui, certamente se orgulharia do quão bufante será o ar deste casamento que se aproxima. Bastião véio, duma simplicidade única, e duma saudosidade marcante. Não pude conhecer meu avô paterno, cujo nome era Mariano. Descendente direto de italianos, tinha em suas veias o maléfício que vemos somente em filmes de máfias sicilianas. Mesmo que nunca em minha vida tenha visto uma foto sua, que não tenhamos convivido alguns momentos e que as lembranças que meu pai possui dele sejam tão dolorosas, ainda assim o respeito.
Já não se fazem mais romances como antigamente. Se outrora havia alguma glória em conseguir segurar a mão duma donzela a ser cortejada, hoje em dia já não mais existe aquele sentimento de cumplicidade, de gratidão e contentamento constante. Tornou-se obsoleto o amor, e a sociedade segue sobre a regência da volúpia. Não quero, e nem gosto da idéia de resumir romances, ou mesmo a alegria da vida em simples penetração sexual. Me entregar a esta idéia é o mesmo que não dar valor a nada na vida, sejam pessoas, ações ou mimos quaisquer, e de fato acreditar que a vida se resume a fricções, suor e gemidos entre quatros paredes - ou mesmo em locais abertos.
É errado sentir inveja dum amigo, mesmo que não interfira em sua vida, tampouco anseie o seu mal? Acho que este tipo de inveja é muito mais uma comparação do que um malefício. Ou ao menos quero acreditar que, estou apenas comparando minha rota vida, a uma vida não-tão-diferente, mas que possui certas vantagens que a tempos não degusto.
O corpo já não pesa mais meros 64 kg, a realidade é que sinto meu corpo, juntamente com minhas pálpebras, pesarem cada vez mais, e também essas dores, esses desgastes e esses vazios. Mais um dia, mais um serviço concluido com sucesso, e tudo que me resta é minha velha cama para descansar. Algumas experiências sim, porém nem sempre isto lhe traz benefícios, algumas das vezes isto lhe traz recordações.
Recordações. Saudades. Inveja. Amizade. Solidão. Responsabilidades. Cansaço. Vida.
A vida é mesmo cheia de surpresas e quando você menos espera é o exato momento em que algo acontece. O problema é que espero - e muito - sedenta e vorazmente pela minha fagulha ígnea de felicidade instantânea. Nada acontece. Inveja. Cansaço.
E o que o título tem a ver com este desabafo? Não há muito o que se explicar, se de fato todos nós sabemos que não existem meios para que alguém ressuscite, que não há nada além do companheirismo que rompa a solidão, que todos temos de trabalhar até que se finde os nossos dias, e a cada dia isto tende a piorar. Ocorrem certos transtornos em meio ao nosso caminho, e o trabalho atrapalha o romance, o companheirismo, e a responsabilidade não te deixar pensar em solidão, ou outras ligações emotivas da mesma natureza. E tudo se resume a minha velha cama para que descanse algumas poucas horas.
Não se compra felicidade com R$800, e nem com dinheiro algum. Não se fica satisfeito somente com o dinheiro. A cada jornada de trabalho, nos perguntamos como arranjamos cada vez mais obrigações para serem abatidas com nossos R$800, mas no fim é sempre o mesmo e ele nada faz por você. Ganho R$800 todo mês, e nada muda. Existem coisas que não se fazem com este dinheiro. Nunca fui à praia, nunca tive festas de aniversário, nunca ganhei presentes enquanto criança, nunca tive videogame e qualquer outro brinquedo. Coisas materiais sim, compramos com R$800, muito embora essas lembranças que me machucam aqui dentro não tenham preço. Não tenho namorada, não tenho um amor, não tenho um abraço quando quero, não tenho mais meus avós - e também algumas outras pessoas que mesmo em vida distanciaram-se de mim - e isto, bom, isto não se compra com R$800.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

FlashBack ?

- Me ajuda?
- Seu material de desenho está ali, quase intacto.
- Não sei mais desenhar. Me dá a mão?
- Por que não dorme um pouco?
- Minha cabeça está tão cheia, meu peito tão vazio... e minhas férias nunca chegam.
- Não gosto.
- Do que você esta falando?
- Das músicas que você me indicou.
- Hoje meu dia foi tão estressante, e também tem essas pontadas que voltam e meia tornam a cutucar meu coração.
- Acho que amanhã eu combino alguma coisa para o fim de semana.
- Estou tão cansado. Por que não se deita comigo?
- A novela já começou não é?
- Eu te amo.
- Olha esse garoto, ele é tão estiloso.
- Só queria um abraço quente neste frio.
- Acho que já vou embora. Depois nos falamos.
- Acho que hoje não houve conversa entre nós.
- Tão tarde.
- Tão tarde.
- Acordo cedo.
- Todos vão cedo demais.
- Me deseje bons sonhos.
- Como pode alguém sonhar o que é impossível saber?
- Você diz essas coisas estranhas pra me impressionar? Porque eu não entendo nada, na verdade é bem confuso.
- Eu te amo.
- Tchau!

Esta não é uma crônica

Farei jus a este título, e de fato não redigirei alguma crônica. Sempre que vou ao centro de Guarulhos procuro almoçar no mesmo local, ali mesmo na Luiz Faccini, no restaurante KiSabor. Este restaurante é do tipo Self-Service - ou como alguns dizem, serve-serve - e possui instalações bem higiênicas e agradáveis. Os pratos, possuem o mesmo diâmetro, muito embora as diferenciações dos almoços sejam justamente o montante de comida que cada cliente coloca em seu devido prato. Regras básicas: Ou tu pesa o prato, ou come o quanto quiser por R$8,50. Eu sempre opto pela ilimitação ao meu almoço, e graças as normas da casa eu posso escolher e comer quantas misturas, saladas e acompanhamentos quiser, desde que os mesmos tenham porções nas bandejas de comida.
Pouco arroz, algum feijão, diversas saladas e muita carne. Os veganistas que me perdoem, mas eu realmente gosto de carne. Sento-me, peço o súco de sempre, sabor cajú. Não há muito mais o que se fazer, apenas abaixo minha cabeça e almoço como se não houvesse mais ninguém ali. ''R$10,00'', é o que sempre marca a comanda. Levanto-me, vou ao banheiro, e com ar de despedida vou em direção ao balcão.
É este o momento, digo, essa é a razão pela qual escrevo este texto. Cada vez que chego à aquele balcão eu sou capaz de ver sempre uma moça diferente, algumas guloseimas, uma placa com SMILE dizendo ''Sorria, você está sendo filmado'' e ao lado inferior esquerdo um monitor em PB, revelando nossa filmagem. E é dali, daquele ângulo que sempre quis descubrir onde escondia-se a câmera. Sempre acho que estou próximo de encontrar alguma lente, mas nunca o fiz. No monitor eu observo cada detalhe do cenário, viro-me e caço a câmera mas nunca acho. Não entre os doces, nem atrás da moça e nem mesmo ao alto. Sempre quis descobrir, mas descobrir sozinho mesmo. De repente minha nota fica pronta, e já não há mais razão para ficar ali ao balcão caçando uma câmera. Mas um coisa é certa, dia desses ainda descubro onde está escondida, e só então procuro outro lugar para almoçar.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Mais um sapato novo

Olha pra o espelho, reparte os cabelos e depois o bagunça.
Coça o rosto,como quem prepara a vítima para o pior, e só então se desfaz de toda aquela barba cerrada que lhe envelhecia alguns anos.
Desfaz aquela cara de cansado, abotoa a camisa e acerta sua gravata.
Finge tudo ter sido só um sonho, calça o sapato novo e vai caminhar sozinho.
Como se a tristeza lhe dissesse não, acende um cigarro e o apaga em sua mão. Besteira qualquer, nem chora mais. Só leva a saudade,morena,de tudo que vale a pena.
Volta, e se despede do novo começo, ve que já não tem mais realejo, e procura sem razão por aquela intenção em seu olhar, e como se a felicidade lhe estendesse a mão, caminha com o sapato barulhento, anseiando encontrar seus braços ao fim do corredor. Se depara com um papel de parede listrado-cafona, e quase que por querer consegue sentir um gosto amargo ao encostar sua língua no papel.
''- Foi só um escorregão.''
Já nem consegue assumir que corre por ti, mesmo que se depare dia após dia com o mesmo papel cafona. É cada dia uma invenção, e é a cada dia que constrói a imagem de independente do amor.
No armário,comida enlatada. Na geladeira, álcool enlatado. No quarto, somente sua cama de casal usada por um ex-ex-solteiro.
''Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.''
Confere o despertador desnecessariamente. Repousa a cabeça ao travesseiro e em instantes adormece. Não fosse ao durmir, nunca mais a veria de novo em seus braços. Vai ver é por isso que deseja durmir tanto.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Jovem rebelde procura

Me veto de ansiedades. A ansiedade gera expectativas, que se não bem sucedidas,tornam-se decepções. A expectativa gera decepção. A decepção gera novos anseios.
Eu já não espero muito mais da vida do que já tenho. Não consigo fazer coisas simples como sentar embaixo duma árvore e simplesmente sentir a vida através dos gramíneos que me confortam o assento. Eu já não espero que alguém me reconheça como um herói sofrido, ou um garoto que não merece a vida que leva.
Quem sabe o problema seja eu. Quem sabe nem exista algum problema.
Talvez, e só talvez, essa seja minha única qualidade, afrouxar corações apertados com palavras tão simplórias à mim e tão significativas a quem as recebe. Eu só não gosto quando tornam esta habilidade sincera em obrigação rota. Eu só não gosto dos valores que dão em etiquetas de mercado.
70%OFF! Estou em liquidação numa prateleira qualquer, para que qualquer um possa usufruir um pouco dos escassos confortos em meio a trovas e abraços.
Gosto de livros, músicas e artes em geral. Minha refeição favorita é frango com batatas,seja cozido, assado, ou frito, a criatividade é que importa nesse momento. Agora que sabem do que gosto, não há desculpa para dizer que não sabia o que fazer ao certo pra me fazer feliz.
Só quero o devido valor, egoísta ou não, mesquinho ou convencido,quero que minha etiqueta num supermercado tenha algumas casas decimais generosas.
Desta vez irei vorazmente calmo, e calmamente voraz em direção ao meu objetivo. Quero mesmo é tocar meu violão - de cor vermelha por sinal - embaixo duma àrvore e sentir a vida através dos gramíneos que me confortam o assento, enquanto não tenho de ouvir nenhuma voz me chamar de volta as obrigações trovadorescas.
Jovem rebelde procura...ou será que procuram que o jovem rebelde para umas boas palavras confortadoras?

terça-feira, 20 de abril de 2010

TUM

Não tenho medo de altura, tenho medo mesmo é da queda que é capaz de proporcionar. E tem todo aquele alarde pós-baque, e aquela angústia pré-queda. Antes de cairmos a gente se preocupa com a dor que nos será causada, com o estampido que soará com o baque de nosso corpo ao chão e nos perguntamos se não havia mais nada para ser feito antes duma possível morte.
TUM!
Mal terminamos de nos angustiar, e beijamos o solo com tanta força que chega parecer que tinhamos esse desejo por um beijo exótico, desses que a gente só vê mesmo nos cinemas. É instantâneo. Ao som do baque, surgem aos montes aquelas faces que não se assemelham a ninguém que você conheça, mas que tu sabes que estão falando de ti, da inesperada queda, e também da sua vida antes da queda. É incrível como sabem tanto da gente,ou ao menos pensam que sabem. Alguns tantos burburinhos e dali a pouco o veredicto é entregue diretamente pelo juíz do universo. Ou tu sobe,ou tu desce. Ou tu vai, ou fica. Muitas da vezes nós vamos, e só então lembramos que deixamos o forno ligado assando um frango, e obviamente nunca iremos provar do mesmo.
Muitas das vezes não são todas as vezes. Mesmo registrando quedas à minha história eu sempre fico, e mais que isso, me levanto, limpo a poeira das minhas vestes, cuido de meus ferimentos e digo à todas aquelas faces que me assistiam, que o show acabou.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Numa canção qualquer

Eu preciso de mais do meu EU. Já me perdi a algum tempo, e fica só essa ansiedade a martelar um desejo de matar a saudade do que ainda não vivi. Talvez numa viajem eu me encontre em uma esquina qualquer, trajandos vestes quaisquer, ostentando uma placa com dizeres tão incompreensíveis quanto duras despedidas.
A cada novo amanhecer esvaisse um velho eu. Os dias estão cada vez mais acinzentados, a comida torna-se escassa e o visual é roto. Mas em meio a tanto cinza, só a vermelhidão das bochechas coradas dum amor resulta numa nova esperança, num novo mundo ,e num novo transcejo.
Há tempos que meus braços de calor são os decibéis das canções que ouço incansavelmente, noite após noite, e isto dá-se ao fato de não ter tido um abraço que fosse dentre tantas as noites de lúgubridade ao rosto e aperto ao peito. Acabei me acostumando com a presença da solidão, e com o atraso que está sempre em dia.
Talvez eu me encontre num dos bares da Lapa, tocando gafiera, quando inesperadamente uma jovem de cabelos negros abraça-me pelas costas e com suaves palavras ao meu ouvido faz-me trocar os sentimentos cantados por sentimentos vividos, em meio a emaranhados de braços e juras de amor. Ou talvez eu me encontre embaixo de seus lençóis no momento em que o Sol tarda a chegar.
Consegue sentir isto? Cale a boca e aumente o volume então. A barba já cerrada, o olhar quasimorto, e a memória pregando uma peça em mim, tentando me mostrar como me encontrei enquanto ouvia a nossa música, em sua casa, num emaranho de decibéis e novas esperanças. Talvez eu me encontre dentro de ti, em seu peito esquerdo, ou mesmo eu me encontre dentro de uma música que lhe dá novas esperanças com altíssimos decibéis enquanto a ouve num dos bares da Lapa.
Queria mesmo poder encontrar-me numa esquina qualquer, trajando vestes quaisquer e ostentando com um dos braços uma placa com os dizeres que soam a clichê quando se ama alguém, enquanto com o outra braço, sua mão envolva a minha, e olhamos a rua orgulhosos um do outro, dizendo a todos que não queremos mais nada desse mundo.