segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Sobre pesar, âmago e discernimento.

Meus olhos, enquanto piscam, pesam-me mais que toneladas.
Respiro, penso, transpiro, e faço um desejo.
Azar, tamanho é o azar. Não existem mais estrelas-cadentes como d'antes.
É sempre escuro quando vêm visitar-me as quimeras.
Imagino quando decidiremos quem é o serviçal de quem, dependentes tanto quanto homem do mal.
Me faço por puro, disfarço a malícia latente. Isso desvia a atenção da urbe.
À mim só interessa a lascívia.
À mim só interessa o amor.
Em mim, agiganta-se a ânsia em expurgar as quimeras adormecidas em meu cerne.
Não durmo muito. Não vivo muito. Sonho, enquanto nada tenho que pagar, salvo as decepções com a demasiada espera por tais concretizações - ou as ruinas destas.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Clandestino

Neste mundo ando clandestino, fazendo de tudo um pouco, deixando em tudo um pouco de mim. Meu visto há muito se expirou, e já não lembro qual a minha naturalidade, já que tudo que faço soa tão fingido, tão artificial.
A naturalidade já não mais importa, e eu, feito colcha de retalhos já não me tenho por anormal, e por mais que fuja deste estereótipo, já não mais sou aquele contracultural, anormal, mas libertário.
Por este mundo caminho, com a idéia de que caminando se hace el camino, e não me permito nem por um segundo imaginar-me desistindo da clandestina vida, da vida de alguém que vive num mundo, todavia não faz parte deste.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Sobre a minha cultura

Sinto como se há muito tivesse me perdido.
Quando procuro pelo garoto que tantos lhe creditavam o maior dos futuros, tudo que encontro são sonhos não consumados, estacionados ao léu.
Hoje, a minha maior vontade é reaver a sinceridade em minhas palavras, que ausentou-se, e deu lugar as plasticidades duma convenção literária.
Me pergunto se é egoísta o pensar que não se esvai, o pensar que mostra-me como sufocaram o meu gênio.
Cada grito, cada noite de sono perdida, cada falta de diálogo, todos estes foram balas destrutivas ao peito do gênio. O gênio morreu, esvaiu-se.
Me sinto deslocado, perdido em minhas próprias palavras, segregado, acepcionado, ou seja lá qual for o maior dos dizeres expressionistas que representaria todo este sentimento.
Tudo decorre dum sistema absurda, e totalmente aquisitivo, onde se paga por qualquer cultura que se queira absorver. Duma ordem separatista, onde a justiça difere brancos de negros, pobres de ricos e a beleza é padronizada.
Se o silêncio que almejo é utópico, se os sonhos que sonho são impossíveis, e se cada um dos detalhes de minha vida que penso quando tudo se desaba em minha volta não existirão, então tudo que me resta é o amor que vivo.
Mas, que tal o paradigma do amor: Nos entristecemos quando desprovidos deste, sobretudo, nos entristecemos mais ainda quando amamos, e o medo de perder quem amamos faz-se presente.
E se, por fim, mesmo o amor me causa medo, o que me resta?

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Você

Armei tendas em plena areia só pra ver o mar,
armei deveras tramóias pra lhe ver,
armei tanto, e só vi a vida passar,
desenfreada, nostálgica, e pude entender,
que melhor que armar, é amar você.

Eu finjo, às vezes, que a brisa n'árvore na verdade é pra mim,
que encontro detalhes ou padrões que ninguém mais encontra,
só então creio que quando escuto os sorrisos, todos riem de mim,
de súbito me rebaixo, me julgo, me faço por lontra,
e vulnerável entendo que não fosse o amor, não haveria você.

A vida, vez ou outra, acaba me punindo por toda a incredulidade,
me presenteia só pra tirar o que dera,
então me tomei por sagaz dia desses, quando a vida me deu felicidade,
e eu apertei tão fortemente, que não a devolvi, mas também pudera,
quem largaria alguém como você...

Você... já não sei mais quantas vezes penso em você,
me perco se tento contar quantas vezes a menciono,
não importa a analogia que se proponha, tudo remete a você,
se me perco, basta te buscar dentro de mim, que me acho denovo,
e quando ligo a tevê, não vejo nada senão você.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Sobre coração, e educação

Quando pequenos nos ensinam o que é certo e errado, o que é vergonhoso, e o que são preceitos familiares. Só então crescemos e descobrimos que nada importa, nada tem valor, ao menos nada é maior que o amor.
A gente percebe que, não tem graça se não partilhamos paixões nos mais ardentes luares, nos mais azulados céus, ou nas mais tempestuosas chuvas, enquanto nós estamos bem ali, em frente a lareira.
Se fosse possível voltar no tempo, não deixaria de me machucar nos mais insensatos corações, e nas mais grosseiras juras de amor, que de tão ríspidas esvoaçavam aos montes lascas de desonestidade.
Se fosse possível tal regresso, eu nada mudaria em minha vida, em minha trilha que rumou-me à quem sou hoje, este alguém que você reclama presença, e pragueja as ausências.
Encaro a vida como uma receita, e todo este tipo de preparo só serviu para temperar nossas vidas com a felicidade real e compartilhada, e perdoem-me caso torne-se cansativa esta analogia, sobretudo hei de confessar que de todos os ingredientes, só não pode me faltar o seu sorriso.
Se pudesse regressar cronologicamente, nada faria senão me entregar de braços abertos à ti, naquela tarde de sexta, num dia chuvoso, já que de fato sei que todos os meus caminhos rumaram a ti, e tenho medo desse tal efeito borboleta, logo não me permito deixar de sofrer antes, correndoo risco de não ser feliz contigo depois.
Quando se ama, se esquece. Se esquece de si, se esquece dos problemas, se esquece das éticas, e do aprendizado infantil. Só não se esquece do ardor no peito, do beijo doce, do relógio que pára, e andar velozmente ao mesmo tempo. Só não se esquece de nos entregarmos à quem se ama, para enfim, nos tornar-mos educados com nosso coração.