domingo, 20 de junho de 2010

Eu

Houve o tempo em que eu não sabia amarrar meus cadarços. Houve o tempo em que escovar os meus dentes era uma tarefa que minha mãe quem fazia. Houve o tempo em que as calças eram realmente largas. Houve o tempo em que Atari era um videogame de última geração. Houve o tempo que eu era gordinho suficiente para ser chamado de balofo. Houve o tempo em que minhas bochechas eram tão rosadas que até parecia que eu passava blush. Houve o tempo que eu era o mais branquelo da turma. Houve o tempo que eu era o mais inteligente da minha escola. Houve o tempo que eu usava topete. Houve o tempo que meu círculo de amizades era imenso. Houve noites que todos os meus vinte amigos se reuniam simplesmente para nada fazer além de apenas trocar idéias e sorrir como se não houvesse razões para sermos tristes. Houve o tempo que minhas piadas eram as melhores. Houve o tempo que minha voz era a mais gostosa de ser ouvida. Houve o tempo que meu visual era o mais ridículo da galera. Houve o tempo que faziam questão de mim. Houve o tempo que eu era feliz sem saber a verdade. Houve o tempo que raspei a cabeça. Houve o tempo que amei. Houve o tempo que esperei outro amor. Houve o tempo que em que eu já não me sentia tão sozinho assim. Houve amizade. Houve saudade. Houve amor. Houve alegria. Houve tristeza. Sempre houve, houve, houve, muito embora já não há.
Não fazem mais questão de mim. Não se lembram de mim. Não estão nem aí pro meu Q.I. Não se importam se agora consigo me vestir bem. Não deixam de festejar porque não estou lá. Não importa amarrar cadarços num mundo onde se existe velcro. Simplesmente nada disso que houve, haverá novamente. Esvaiu-se. Fora substituido. E já não há mais nada além de mim. E não quero que haja pena, críticas ou ajuda, posto que escrevo o que quero, quando quero e pelo motivo que quiser, e nunca precisei pedir que sentissem pena de mim ou que dissessem o que pensam, e pra mim indifere conselhos que me darão. Não quero pena. Não quero julgamento. Não quero que haja somente eu, mas é tudo que sobrou.

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