domingo, 14 de março de 2010

Gabriela

Tu que cogitou o fim, imaginou o cessar e esquivou a mente do presente momento - e manteve somente a frieza física, simples sombra do que fora outrora - capacitou-me enxergar através de minhas, e também de suas janelas, as tardes de Sol que perdia ao passo que permitia sair aos poucos de minha vida, e esforçava-me ao máximo para que adentrasse a sua.
Tu que originou em mim a fluente quase incessante dos rios da tristeza, que fez-me questionar o valor de sua flor que tanto queria adentro de meu peito, atirou-me a incerteza da felicidade e a certeza de que não seria eu quem lhe faria mudar de idéia.
Tu que derramou-me num mar de trovas e versos de genuína identificação, obrigou-me a plagiar as mais belas canções a fim de estancar duma vez o sangramento que causou em meu espírito.
Tu que transformou aquele garoto repleto de sonhos num homem de muitas realidades, que pisou nos sentimentos do outrora amante e atual fatídico, hoje em dia deve ser creditada por me presentear com as cicatrizes dum passado sofrido e tenebroso, pois foram - e são delas - que surgem as mais furtivas pensativas e trovas que adentram o espírito de quem recebe através das retinas as migalhas de meu coração, subescritas nos caracteres desta carta sem destino.
Tu que não mereceu meu amor. Tu que desmereceu meu amor. Tu que fingiu ser fingida. Tu que mal se deu ao trabalho de me presentear com beijos, abraços, afagos e dizeres de amor, ao menos deu-me um último presente, um presente que sou capaz de dividir com quem quer que seja e nunca se acabará. A ti eu so tenho algo a agradecer. Obrigado por me fazer odiá-la, e a amar a mim mesmo.

Um comentário:

  1. Afinal,todos temos algumas Gabrielas.

    Não são nunca as primeiras,e ainda nunca as últimas...

    Por quê?

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