sexta-feira, 30 de abril de 2010

Coisas que não se fazem com R$800,00

Se meu avô Sebastião ainda estivesse por aqui, certamente se orgulharia do quão bufante será o ar deste casamento que se aproxima. Bastião véio, duma simplicidade única, e duma saudosidade marcante. Não pude conhecer meu avô paterno, cujo nome era Mariano. Descendente direto de italianos, tinha em suas veias o maléfício que vemos somente em filmes de máfias sicilianas. Mesmo que nunca em minha vida tenha visto uma foto sua, que não tenhamos convivido alguns momentos e que as lembranças que meu pai possui dele sejam tão dolorosas, ainda assim o respeito.
Já não se fazem mais romances como antigamente. Se outrora havia alguma glória em conseguir segurar a mão duma donzela a ser cortejada, hoje em dia já não mais existe aquele sentimento de cumplicidade, de gratidão e contentamento constante. Tornou-se obsoleto o amor, e a sociedade segue sobre a regência da volúpia. Não quero, e nem gosto da idéia de resumir romances, ou mesmo a alegria da vida em simples penetração sexual. Me entregar a esta idéia é o mesmo que não dar valor a nada na vida, sejam pessoas, ações ou mimos quaisquer, e de fato acreditar que a vida se resume a fricções, suor e gemidos entre quatros paredes - ou mesmo em locais abertos.
É errado sentir inveja dum amigo, mesmo que não interfira em sua vida, tampouco anseie o seu mal? Acho que este tipo de inveja é muito mais uma comparação do que um malefício. Ou ao menos quero acreditar que, estou apenas comparando minha rota vida, a uma vida não-tão-diferente, mas que possui certas vantagens que a tempos não degusto.
O corpo já não pesa mais meros 64 kg, a realidade é que sinto meu corpo, juntamente com minhas pálpebras, pesarem cada vez mais, e também essas dores, esses desgastes e esses vazios. Mais um dia, mais um serviço concluido com sucesso, e tudo que me resta é minha velha cama para descansar. Algumas experiências sim, porém nem sempre isto lhe traz benefícios, algumas das vezes isto lhe traz recordações.
Recordações. Saudades. Inveja. Amizade. Solidão. Responsabilidades. Cansaço. Vida.
A vida é mesmo cheia de surpresas e quando você menos espera é o exato momento em que algo acontece. O problema é que espero - e muito - sedenta e vorazmente pela minha fagulha ígnea de felicidade instantânea. Nada acontece. Inveja. Cansaço.
E o que o título tem a ver com este desabafo? Não há muito o que se explicar, se de fato todos nós sabemos que não existem meios para que alguém ressuscite, que não há nada além do companheirismo que rompa a solidão, que todos temos de trabalhar até que se finde os nossos dias, e a cada dia isto tende a piorar. Ocorrem certos transtornos em meio ao nosso caminho, e o trabalho atrapalha o romance, o companheirismo, e a responsabilidade não te deixar pensar em solidão, ou outras ligações emotivas da mesma natureza. E tudo se resume a minha velha cama para que descanse algumas poucas horas.
Não se compra felicidade com R$800, e nem com dinheiro algum. Não se fica satisfeito somente com o dinheiro. A cada jornada de trabalho, nos perguntamos como arranjamos cada vez mais obrigações para serem abatidas com nossos R$800, mas no fim é sempre o mesmo e ele nada faz por você. Ganho R$800 todo mês, e nada muda. Existem coisas que não se fazem com este dinheiro. Nunca fui à praia, nunca tive festas de aniversário, nunca ganhei presentes enquanto criança, nunca tive videogame e qualquer outro brinquedo. Coisas materiais sim, compramos com R$800, muito embora essas lembranças que me machucam aqui dentro não tenham preço. Não tenho namorada, não tenho um amor, não tenho um abraço quando quero, não tenho mais meus avós - e também algumas outras pessoas que mesmo em vida distanciaram-se de mim - e isto, bom, isto não se compra com R$800.

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