segunda-feira, 26 de abril de 2010

Mais um sapato novo

Olha pra o espelho, reparte os cabelos e depois o bagunça.
Coça o rosto,como quem prepara a vítima para o pior, e só então se desfaz de toda aquela barba cerrada que lhe envelhecia alguns anos.
Desfaz aquela cara de cansado, abotoa a camisa e acerta sua gravata.
Finge tudo ter sido só um sonho, calça o sapato novo e vai caminhar sozinho.
Como se a tristeza lhe dissesse não, acende um cigarro e o apaga em sua mão. Besteira qualquer, nem chora mais. Só leva a saudade,morena,de tudo que vale a pena.
Volta, e se despede do novo começo, ve que já não tem mais realejo, e procura sem razão por aquela intenção em seu olhar, e como se a felicidade lhe estendesse a mão, caminha com o sapato barulhento, anseiando encontrar seus braços ao fim do corredor. Se depara com um papel de parede listrado-cafona, e quase que por querer consegue sentir um gosto amargo ao encostar sua língua no papel.
''- Foi só um escorregão.''
Já nem consegue assumir que corre por ti, mesmo que se depare dia após dia com o mesmo papel cafona. É cada dia uma invenção, e é a cada dia que constrói a imagem de independente do amor.
No armário,comida enlatada. Na geladeira, álcool enlatado. No quarto, somente sua cama de casal usada por um ex-ex-solteiro.
''Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.''
Confere o despertador desnecessariamente. Repousa a cabeça ao travesseiro e em instantes adormece. Não fosse ao durmir, nunca mais a veria de novo em seus braços. Vai ver é por isso que deseja durmir tanto.

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