quinta-feira, 15 de abril de 2010

Numa canção qualquer

Eu preciso de mais do meu EU. Já me perdi a algum tempo, e fica só essa ansiedade a martelar um desejo de matar a saudade do que ainda não vivi. Talvez numa viajem eu me encontre em uma esquina qualquer, trajandos vestes quaisquer, ostentando uma placa com dizeres tão incompreensíveis quanto duras despedidas.
A cada novo amanhecer esvaisse um velho eu. Os dias estão cada vez mais acinzentados, a comida torna-se escassa e o visual é roto. Mas em meio a tanto cinza, só a vermelhidão das bochechas coradas dum amor resulta numa nova esperança, num novo mundo ,e num novo transcejo.
Há tempos que meus braços de calor são os decibéis das canções que ouço incansavelmente, noite após noite, e isto dá-se ao fato de não ter tido um abraço que fosse dentre tantas as noites de lúgubridade ao rosto e aperto ao peito. Acabei me acostumando com a presença da solidão, e com o atraso que está sempre em dia.
Talvez eu me encontre num dos bares da Lapa, tocando gafiera, quando inesperadamente uma jovem de cabelos negros abraça-me pelas costas e com suaves palavras ao meu ouvido faz-me trocar os sentimentos cantados por sentimentos vividos, em meio a emaranhados de braços e juras de amor. Ou talvez eu me encontre embaixo de seus lençóis no momento em que o Sol tarda a chegar.
Consegue sentir isto? Cale a boca e aumente o volume então. A barba já cerrada, o olhar quasimorto, e a memória pregando uma peça em mim, tentando me mostrar como me encontrei enquanto ouvia a nossa música, em sua casa, num emaranho de decibéis e novas esperanças. Talvez eu me encontre dentro de ti, em seu peito esquerdo, ou mesmo eu me encontre dentro de uma música que lhe dá novas esperanças com altíssimos decibéis enquanto a ouve num dos bares da Lapa.
Queria mesmo poder encontrar-me numa esquina qualquer, trajando vestes quaisquer e ostentando com um dos braços uma placa com os dizeres que soam a clichê quando se ama alguém, enquanto com o outra braço, sua mão envolva a minha, e olhamos a rua orgulhosos um do outro, dizendo a todos que não queremos mais nada desse mundo.

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