sexta-feira, 21 de maio de 2010

Batatas

Fim de feira-livre. É possível enxergar ao chão dezenas de unidades de frutas ou legumes esparramados, abandonados e esquecidos, como se outrora não fossem fonte do sustento de feirantes anônimos, trabalhadores e necessitados.
Muitas são as crianças que anseiam saborear os frutos ao chão. Muitos são os adultos que chutam, pisoteiam e repudiam os alimentos naturais. Alguns poucos adultos da infância perdida e futuros desconhecidos, ficam a espreita degustando fantasiadamente os frutos abandonados, aguardando o momento em que aqueles muitos adultos de boa aparência, do estômago cheio e da mesa farta, deixem de brincar ou ferir os alimentos ali ao chão que tanta diferença fariam às pessoas desoladas, famintas e preconceituadas.
Final dum dia qualquer. Estima-se que no Brasil, toneladas de batata são descartadas diariamente, mesmo que no contraponto tenhamos um elevado índice de miséria nacional, ocasionando obviamente a desregularização básica sanitária e cidadã, posto que a renda subnutre o suficiente para extinção da fome e implantação de condições adequadas de higiene pessoal. O reflexo deste estado desigualitário é exata e precisamente a fome, a má aparência e doenças infecto contagiosas. O fedor pútrido duma batata ao ser descartada é tão intenso quanto o desejo por alimento dum faminto. O produto quando descartado não gera lucro. O produto quando doado acrescenta positividade ao espírito de quem doa, e felicidade ao recebedor. A dura realidade da oferta e da procura. Uma vez que o preço da batata diminuísse, a aquisição seria maior, o que geraria maiores lucros, desperdícios menores e aumento de espaço livre terrestre. Com maior aquisição de batatas, a fome seria menor, e se doado o excedente gerado, a fome poderia ser ainda menor, os fatores decompositores reduziriam as toxinas e gases nelas contidas, o que agravaria de forma menor a camada de ozônio. O faminto em posse da batata alimentaria-se, e com isso reforçaria suas energias e organodefesas, ocasionando a redução de doenças, o que significaria um número menor de bactérias e a mortalidade sentiriam tais mudanças, o que influenciaria a movimentação da econômia, e também a contribuição cidadã com a urbe, posto que as batatas ao chão num fim de feira-livre, seriam as batatas à panela de quem necessita numa hora qualquer, em qualquer que seja o dia. A culinária nacional acerca da batata aumentaria e tornaria-se corriqueira, o que traria mudanças à culinária nacional, englobando múltiplas culturas. Uma bata. Um cidadão. Descarte. Envolvimento. Investimento.
Detalhes vertentes e obstruídos por um cabresto fatídico fictício. Uma batata pode dizer tanto dum país, quanto um país pode dizer duma batata. Cabe a nós escolhermos o que enxergar.

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