quinta-feira, 27 de maio de 2010

Ludmila

Pensei ser capaz de ir contra esta minha natureza, entretanto vejo que, crer que fosse possível esquecer este sentimento, não passou de mais um de meus erros. É quase que instantâneo, digo, logo pela manhã encontro-me estirado em minha cama, surpreendido pelo Sol aporrinhando minha janela, visitando-me quarto adentro e sussurando seu nome quase que inaudívelmente, muito embora seja nítida a necessidade que tem de me lembrar desse nome que na verdade não sou capaz de esquecer.

O destino tem muito dessas coisas. Ele nos traz à memória fatos que nem sequer tentamos lembrar, e acabamos lembrando até coisas erradas em momentos errados, porém ao destino, estes momentos e estas recordações são tão exatas quanto os bocejos que soltamos em meio ao tédio da amnésia. Desnecessário mesmo é tentar evitar que tu me venha à memória - tão desnecessário quanto aprender a amarrar cadarços enquanto criança, para que quando adultos simplesmente escondemos os cadarços abaixo da meia.

Vencido pelo Sol, deixo então que o destino retome seu curso e me dê coordenadas para que me encontre em meio à esses dias que me perco. E acabo me encontrando mais ainda quando te encontro no meu caminho. Muitas das vezes este encontro não é físico, todavia tão real quanto. Basta apenas fechar os meus olhos, ou nem sequer isso, necessário mesmo é simplesmente recordar dos meus momentos mais felizes e tu está lá inerente.

Te vejo na minha xícara de café. Por ti tomo jarras, jarras de café, e não nego a ansiedade que o café me traz, digo, esta ansiedade de te ver. Nem sempre é possível te encontrar fisicamente, e admito que certas vezes eu acabo me privando desse momento tão sólido que é te abraçar, pelo fato de me julgar indigno do teu sentimento. É, não dá pra negar, você está mesmo em cada gota de café, e em todo fundo de minhas xícaras, e acho que por isso que acabo tomando feito louco toda essa cafeína, a fim de absorver por completo um pouco mais de você.

Fico confuso à cada despedida. O temor me invade à cada despedida. Me sinto menos eu à cada despedida. Acabo querendo sempre mais um pouco de você à cada despedida.

Escrever para mim funciona como uma terapia, muito embora isto nem chegue perto do bem que é sorrir por ti, que és de fato meu melhor remédio, ou seria você o meu vício mais letal? Creio por fim que seja você a minha cafeína viciante, minha dose de perfeita de calmaria em meio a tempestade. Escrevendo assim, até parece que sou gente grande, mas tu sabe - e como sabes - que não passo de um garotinho perdido em meio a uma grande selva de concreto, e é você a minha eterna guia, minha eterna companheira. Não sei se o que sinto no momento é saudade, ou arrependimento, de não lhe dizer todos aqueles ‘eu te amo’ que reprimo, por achar que seria incoveniente ou incompreensível à aqueles que pensam que relacionamentos entre homem e mulher existe somente na cama - ou em quase nela.

A verdade é uma só. Quando por fim entrei de férias, pensei ser capaz de tirar também férias do mundo. E de fato consegui, recriei meu mundo em todos esses minutos ociosos, consegui mesmo o mais dificultoso, tirar férias do próprio Eliézer. Admito que, falhei num quesito. Falhei em pensar que também seria possível tirar férias de você, mas a medida que tento fugir de ti, a saudade aumenta cada vez mais, e é em meio à toda essa algazarra de meu guardaroupa que acabo te encontrando sempre no mesmo lugar, aqui dentro de meu coração, e a cada vez que te encontro tu sempre diz num tom de companheirismo: ‘Pode tirar férias do Eliézer, mas o Zé você não consegue folgar!’.

Acho que entendo o que você quer me dizer. Não adianta, mesmo que queira, não posso tirar férias deste meu sentimento, posto que este meu sentimento, já se tornou eu por completo. Compreendo que não consigo tirar férias de você, e esta compreensão que traz saudade, que me traz arrependimento, todavia não me traz o que mais quero, a compreensão não me traz você.

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