sexta-feira, 21 de maio de 2010

Mercado

Enquanto decidia-se entre comprar uma lata de sardinhas ou um vidro de palmito, se distraia ao ver os não-raros casais que andavam pra lá e pra cá ao longo do hipermercado. andava tão distraído que, não fosse o baque contra o peito, mal teria percebido que veio a colidir com outro carrinho que estava à sua frente. Preparou prontamente uma desculpa para entoar, muito embora não fosse preciso, já que descobriu logo em seguida que a vítima de sua batida era seu melhor amigo que a tempos não o via.
- Ora, ora, além de não mandar notícias sequer, me atropela desta maneira? - disse o amigo benhumoradamente.
- Carlos?! Nossa, a tempos que não nos vemos hein?! Me desculpe ter batido em teu carrinho - desculpou-se de imediato o mau motorista.
- Ora, não há com o que se preocupar. Anda cá, dê-me um abraço Felipão.
E foi neste exato momento em que ambos puderam observar seus carrinhos de compra. Sem alguma demora Felipe comenta:
- Vejo que tem estocado muita comida, meu caro amigo.
- Estocado? Isto aqui não passa de um mês!
- Um único mês? Mas o carrinho está lotado!
E como um gênio surge para realizar nossos desejos ao esfregarmos a lâmpada mágica, de trás de uma das estantes surge uma moçoila loira, alva, de olhos claros e poucas sardas ao rosto, e diz num tom de companheirismo:
- Que tal esta torta amor?
- Ó, boa idéia, Júlia vai adorar! - responde Carlos à tal moça, vira-se para Felipe e diz - esta é Juliana, minha esposa, e Júlia é a nossa filhota que está com a babá neste momento. E Juliana, este é Felipe, aquele amigo que te falei a respeito.
- Encantado Juliana!
- Igualmente Felipe!
Juliana então retoma sua atenção às suas compras, e mais que apressadamente Felipe ressalta à Carlos:
- Vejo que formou uma bela família!
- Vejo que ainda está solteiro.
- E como tem tanta certeza disto?
- Seu carrinho está quase vazio, porém só comprou enlatados ou congelados. Típicos alimentos de solteiros.
- Não é verdade!
- É sim!
- Talvez...
- Certeza! Felipão, toma um jeito, ou ficará para titio. Agora tenho de ir, marcamos uma cervejinha futuramente, certo?!
- Tudo bem...
- Tudo bem sairmos, ou tu tomar algum rumo?
- Eu ao menos sei se levarei sardinha ou palmito.
- Te ligo então. Até mais!
- Até bro, até!
Felipe então decidiu-se pelo palmito. Nunca gostou de ver casais, ainda mais casais felizes, e um pouco menos se forem casais de amigos, já que isto o fazia lembrar da instabilidade amorosa, dos abandonos, dos repugnos e da solidão. Lhe apertava o peito ver casais, e ainda mais belos casais.
Nunca mais comprou comida enlatada. Decidiu cozinhar por si só, para tentar enganar a solterice. Agora quem vê seu carrinho de compras não diz prontamente que Felipe é um solteiro, às vezes é até confundido com um marido prestativo que vai sozinho às compras. Dia desses encontrou com outro amigo que não via a tempos, e pode até ludibriá-lo fingindo ser casado. No fim das contas, já não precisa mais decidir entre levar palmito ou sardinha. Agora é quase casado.

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