domingo, 8 de novembro de 2009

O garoto invisível

Honestamente, nunca fui muito fã de filmes nacionais, salvo alguns poucos que possuiam menos cenas de sexo, violência gratuita, e palavriados chulos em troca de um conteúdo histórico ou uma criticidade mais rica do que os demais.
Me surpreendi ao assistir " A mulher invisível", filme no qual o personagem principal ensandece à ponto de ilusionar uma mulher para si. O foco principal do filme é mostrar-nos os males que a solidão pode nos causar. Bastou alguns poucos minutos do longa para que eu pudesse identificar-me com a personagem principal, e ao término do mesmo, pude avaliar o quão aleatória é a vida. Repleta de instabilidades, estamos sujeitos a vivenciar desde os mais prazerosos momentos de nossa vida, até mesmo a decadência de um ser humano pela ausência de carinho.
O que é exatamente a solidão? Por quê nos sentimos solitários mesmo em meio a multidão de pessoas? A solidão não possui uma forma própria. Mesmo que imaginem a solidão como uma nuvem negra, alojando-se em mentes e corpos alheios, a solidão pode ter diversas formas. A solidão é um jovem, que sem um motivo aparente para viver droga-se sem mais porquês em seu apartamento e subitamente tornar-se inerte após ter uma overdose. A solidão é aquele operário solteiro, que trabalha incessantemente para pagar suas dívidas, não possuindo tempo sequer para procurar uma companheira e mãe de seus herdeiros - isto é, se é que possui algum bem para ser deixado a geração futura - e adormece todos os dias no mesmo sofá, assistindo ao mesmo programa , sempre sonhando com algo mais. A solidão é aquele executivo que possui uma esposa que não o ama, e sabe que se um dia perder tua fortuna, juntamente perderá tua companheira. A solidão é cada gota de álcool que o órfão crescido nas ruas toma diariamente. Cada cigarro, cada entorpecente, todo o descaso, isto é a solidão.
O desprezo, o renego, e a imperceptibilidade nada mais são do que caminhos para a depressão provida da solidão. Confesso que às vezes me sinto invisível. É como se tudo que eu fizesse nunca fosse notado por alguém, como se minha beleza não fosse o bastante para destacar-me entre os demais, como se tudo que falasse soasse um tanto quanto antíquado, e ao invés de reconhecimento por minhas idéias, só me restasse o desprezo múltuo. Nunca fui popular, nunca tive muitas namoradas, e nunca fui muito requisitado como namorado, desenhista, cantor ou algo do tipo. Sempre imaginei que as poucas habilidades que tinha não sobrepujava a habilidade alheia. E por toda minha adolescência me senti invisível, inerte. Sempre me refugiei em meus pensamentos, e sempre tive muito tempo para pensar. Quando adentrei meus dezesseis anos, era notoriamente mais isolado e um tanto mais maduro do que os que me cercavam. E justamente nesta idade, comecei a me relacionar com alguns poucos que me interessavam, meu grupo de amigos era pequeno, porém um seleto grupo. E aos dezesseis anos de vida, eu comecei a me sentir um pouco menos invisível. Mas o tempo passou, e eu necessitava de algo mais. Me sinto apenas vivo. É como eu disse, acho que nunca fui grande coisa a ponto de se destacar, ou ao menos ser percebido. Às vezes me perguntava se ao menos uma garota nesse mundo suspirava ao me ver, se escrevia meu nome nos lugares mais adversos possíveis, ou se de fato me amava.
Agora tenho dezoito anos. A sensação de invisibilidade ainda é notória. O anônimato é eminente. Tive que aprender a ser feliz com o pouco que tenho, e esquecer o que me foi tomado. Assim como no filme, tenho que controlar a "Amanda" dentro de mim, mas isso é o de menos. O pior mesmo, é ter que encarar todo o resto do mundo, sem ao menos ser encarado.

2 comentários:

  1. A solidão é a grande doença da humanidade e o que leva a várias outras, exemplo disso; Depressão.
    Quantas pessoas hoje não vivem em um mundo invisível, onde ela é o foco de tudo , de todas as ruínas, onde só ela enxerga a tristeza de seu próprio coração, os seus defeitos e as suas qualidades, a monotonia da vida.
    O maior desejo dessas pessoas realmente é de sumir , desaparecer .. MORRER; ser invisível ou de simplesmente nunca ter existido.
    O que digo não é dedução, mais é sim o relato de uma pessoa que convive dia a dia com alguém que sofre de SOLIDÃO, de DEPRESSÃO. A sua solidão não é por não ter um companheiro, pois ela tem uma FAMÍLIA,mais acredito que sua solidão seja consequÊncia de algo do passado , algo que ela trás desde a sua infância .. adolescência. Essa pessoa de quem eu digo teve que sair de casa muito cedo para trabalhar , ajudar a sua família, composta por seus pais e sete irmãos;Com apenas dezessete anos perdeu a sua MÃE, uma mulher humilde, batalhadora que vivia em condições precárias com seu esposo e que mesmo assim vivia cantando , "cantando a vida " .... uma mulher que MORREU de câncer em um hospital chulo em uma pequena cidade do estado de Pernambuco.
    Desde então essa pessoa nunca foi a mesma ,sua vida continuou , casou - se , teve filhos mais mesmo assim o sentido da vida já não era o mesmo de anos átras, a solidão tomou conta do seu ser.
    Essa pessoa muitas vezes relatou - me que preferia NUNCA ter nascido , preferia sumir .. preferia ser invisível; Porém se essa pessoa nunca tivesse existido EU NÃO EXISTIRIA , pois a pessoa de quem eu falo é minha MÃE.
    Luto a cada dia com a solidão e tenho um grande aliado ...DEUS , pois sem ele tudo nas nossas vidas seria invisível, minha mãe não existiria e eu muito menos.
    Não tenho certeza se a solidão , depressão tem cura, mais sei sim que tem tratamento que usa como remédio o Amor com uma hiper dosagem.

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  2. o melhor dos textos....na minha opinião é claro....

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