quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Um conto não tão de fadas

Era uma vez, um homem com dupla personalidade, que morava em um barraco na selva de concreto. Seu nome era João, mas não o do pé-de-feijão. Aliás, ele não tinha plantação alguma, tampouco um gado a ser trocado por três feijões mágicos. Sua pele era castigada pelo sol, apesar de ser um tanto jovem, já apresentava rugas e linhas de expressão o que lha fazia aparentar ser mais velho do que realmente era. Na realidade, João fez algo semelhante à fábula. Trocara seus três filhos - que pouco importam à este texto a ponto de sequer possuirem nomes - por uma pequena quantia de dinheiro, à fim de fazer "mágicas" em sua casa.
Não tão distante dali, morava um fazendeiro bem-sucedido. Viúvo, com inúmeros hectares, e dezenas de centenas de gados, nunca lhe passou pela cabeça trocar ao menos um que fosse por feijões mágico, pois já tinha tudo que precisava antes mesmo de nascer. Sua mansão não assemelhava-se ao simplório barraco de João, bem como sua feição, que aparentava ter muito menos idade do que realmente possuía. Tinha tanto dinheiro quanto sua vida era vazia - Por mais servos que o cercassem, tinha a sensação de estar só, em meio a multidão - mal sabia com que gastar. Muitas das vezes, alimentava tua futilidade gastando com coisas supérfluas.
Havia ainda, não tão distante do centro da cidade, Maria. Estéreo, estatura mediana, com beleza intrigante. Ainda assim, solteira. Nunca casou-se, e seus pouquíssimos namoros nunca forma duradouros. Sua casa não era muito grande, nem muito pequena, entretanto a solidão ampliava os metros quadrados de sua moradia, o que fazia sentir-se pequena em seu lar. Os únicos amigos que tinham apareciam somente quando bebia ou se drogava, e mesmo quando acordava em estado deplorável em algum canto de sua casa, sua maior vontade era poder tornar-se mãe.
Se o fazendeiro encontrasse um amor, tornar-se-ia mais vívido, teria com que gastar, e descansaria em paz. Se Maria tivesse parcela da fortuna do fazendeiro, teria comprado os filhos de João. Se João trabalhasse para o fazendeiro, não lhe faltaria dinheiro, e não haveria porquê vender seus filhos. Se joão fosse empregado do fazendeiro, e apresentasse Maria ao mesmo, talvez tal conto seria diferente, mas nem tudo é como nós queremos.
Nem tudo é perfeito. Nem todo final é feliz. Nem todo conto é de fadas.

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